Quando o conheci, tinha o coração de férias - e, talvez por isso mesmo, por, pela primeira vez na minha vida, não ter essa sede de me apaixonar, de sentir, de fantasiar com futuros risonhos que nunca chegaram a sair do sonho, aconteceu. Pela primeira vez, o meu coração estúpido soube apaixonar-se como deve ser: devagarinho, a sorver os pormenores antes de dar o sinal de alerta, a render-se antes de bater descompassado. E, por tudo isto também, eu não me dei conta de que estava a acontecer.
Há precisamente um ano atrás, não nos falávamos.
Zangámo-nos uma semana depois do (tão esperado) primeiro beijo; não fomos capazes de nos entender quando a minha insegurança apareceu para dizer olá e a personalidade peculiar dele decidiu que não estava para socializar com essa puta que sempre me tramou a vida. As conversas longas transformaram-se em discussões tão ou mais longas ainda e, mais tarde, em silêncios pesados. Não havia nada mais a dizer; eu não sabia confiar e ele sabia que não tinha feito nada que alimentasse a minha desconfiança.
Fui incapaz de desistir.
As lembranças iam surgindo a conta-gotas e as palavras encadeavam-se por forma a decifrar aquilo que eu nunca havia sido capaz de ver. Aprendi mais sobre ele nessa altura do que me tinha permitido a perceber até então; as mentes inseguras têm este condão de só verem o que querem ver. Demorámo-nos em lágrimas, em lamentos, em nuncas mais, em alternativas que faziam doer. E, depois, no primeiro vinte oito a que podemos chamar nosso, encerrámos as discussões num abraço, secámos as lágrimas e refizémos os laços que se haviam desfeito, com dois nós cegos desta vez.
Não somos fáceis de concretizar, mas tornámo-nos muito bons a fintar as probabilidades e a sermos sem se que saiba como é possível ser-se assim. E somos, já há muito tempo.
Gosto dele, e gosto de nós - somo-lo sem limites e sem medos, com uma confiança que aprendi a construir, graças a ele, e com a alma mais posta a nu do que os próprios corpos. Somos amigos, em primeiro lugar - daqueles escassos a quem podemos dizer tudo, sem vergonhas ou moralismos, e eu acho que não há maior liberdade do que esta. Fazemos um bom par porque sabemos que não sabemos tudo e que vale sempre a pena dedicar um bocadinho a aprender mais. Um sobre o outro, principalmente.
Nem todos os dias são bons - às vezes discutimos e é quase sempre por coisas que não estão, ainda, ao nosso alcance mudar; uma ou outra vez, achei que não iríamos conseguir continuar a suportar as dificuldades, os obstáculos, as diferenças, até cairmos nos braços um do outro outra vez e limarmos as arestas, acertarmos o passo, encontrarmos o equilíbrio. E conseguimos - tenho para mim que há pouco que não se consiga quando o sentimento é suficiente, e o nosso é um muito bom, assim escrito em letras grandes e gordas.
Estreei-me como ele no amor e, assim de repente, tenho a dizer que é uma corrida com barreiras - ainda não falhámos nenhuma.
2 comentários:
Olá :) Nunca comentei os teus posts mas sou uma assídua leitora. Curiosamente, a minha história de Amor começou na mesma altura da tua. Identifico-me com muita coisa do que escreves... e este post, este post é magnífico. :) Desejo-vos o melhor. Beijinho
Olá! Muito obrigada, e felicidades também para vocês ;) beijinho
Enviar um comentário