quinta-feira, 8 de setembro de 2016

dos hospitais

Fiz os dois primeiros estágios numa enfermaria, mas tinha o coração nas urgências; a minha alma irrequieta e desassossegada andava sedenta de novidades, de imprevisibilidade, de adrenalina. De desafio: o desafio da minha resistência, do meu sangue frio, da minha capacidade de lidar com situações caricatas.

Uma semana depois, confesso, ainda me sinto perdida volta e meia. Ainda não vi nada que me fizesse recuar, ainda não houve nenhuma situação que me causasse realmente impacto, ainda não fiz nada que achei que nunca faria - mas percebi que estou exatamente onde queria estar.

Gosto do facto de não haver tempo para pensar e que há uma diferença muito ténue entre ser-se auxiliar e psicóloga de corredor. Mas daquelas que fazem consultas de trinta segundos porque, logo a seguir, há mais três doentes que precisam de ajuda para ir à casa de banho, uma de que decidiu vomitar, quatro enfermeiros a chamar e uma corrida urgente para ir buscar mais uma maca. E é tudo urgente. E é tudo para ontem.

Volta e meia até o rigor falha porque não há tempo para se ser rigoroso, quase mesquinho; há correrias, há azáfama, há pressa, há atrapalhação. Volta e meia ainda me sinto perdida, volto a dizer, mas não queria estar perdida noutro lugar.

Conseguir não pensar em mais nada é, possivelmente, a melhor terapia de sempre.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ainda não desmaiaste? xD

Ju. disse...

Percebo-te perfeitamente porque fui algumas vezes à urgência no ano passado (enquanto estudante de Medicina) e vivi exatamente isso: era um completo caos, mas um caos algo ordenado! Também gostei do ambiente de urgência, para ser sincera, mas não sei se daria para mim enquanto escolha profissional.
Beijinho*

ernesto disse...

Zé do pipo, nãaaao! xD