Mostrar mensagens com a etiqueta bichinhos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta bichinhos. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

aqui

A vida acontece lentamente. Há dias em que mal chega a acontecer.
Aos meus olhos, esta é uma vila montada a retalhos, como se cada fragmento tivesse vindo aqui parar por mero acaso e não houvesse qualquer relação com o resto. Provavelmente serão todas assim, mas esta, por me parecer mais vazia e mais triste do que o resto do mundo, ganha destaque aos meus olhos.

Não sei quantas pessoas vivem neste prédio, mas estou certa de que algumas delas têm como principal ocupação pôr e tirar o carro da garagem -  entrada é tão absurdamente íngreme que me haveriam de pagar para lhes repetir a proeza. Há malucos para tudo. E medrosos para nada, suponho.

Os carros passam depressa, demasiado depressa; volta e meia, ouve-se o chiar característico de uma travagem brusca - os condutores querem tanto fugir daqui a sete pés, ou a quatro rodas, que não reparam na pobre da lomba que só existe para os tentar deter mais um bocadinho por estas terras de ninguém. Ou então sou eu quem gosta de poetizar o que de poético tem menos que nada.

Nos dias de sol, passeio por aí e, nos restantes, ou me esqueço do quanto adoro andar à chuva ou o peso da responsabilidade nos ombros cala essa vontade. Sento-me no café: a senhora é doce, pergunta-me se está tudo bem e serve-me um café cheio, forte, sem açúcar. Gosto de gente que nos aprende assim tão rápido. Gosto dela. Abro o livro e perco-me no primeiro trago.

Há vidas empilhadas: numa varanda, duas senhoras de pijama, a altas horas da manhã, cochicham, na janela de baixo, uma senhora pendura cuecas na corda, na varanda da frente, um homem olha para a rua e atira um cigarro para o chão que cai logo ao lado de um carro. Talvez se conheçam, talvez façam todos por não se conhecer. 

Continuo a andar.
Aqui e ali há casas em ruínas, que mantêm uma beleza triste como se ainda esperassem voltar a ser o lar de alguém. Por enquanto, contentam-se em albergar ratos e outros bichos, ignorando que são parte de uma maioria. A vida parece esgotar-se nestes recantos sombrios, devagarinho, tão devagarinho quanto acontece por aqui.

Cada coisa parece não pertencer a coisa nenhuma, tal como se, lá está, esta vila montada a retalhos fosse feita de fragmentos de histórias que não se cruzam na esquina. E por isso, principalmente por isso, nunca chega a ser uma história. 

Sentado no parapeito de uma janela, um gato observa quem passa, qual cão de guarda numa versão felina. Fotografei-o porque o achei bonito. E, logo a seguir, achei-o triste também - observava-me atentamente, sem fazer a mais pequena ideia de quem eu sou, sem a menor intenção de algum dia vir a saber. Observava-me, somente, nesta terra de ninguém, fragmentada, desfeita. Não importa quem eu sou, pois não?

No fundo, é isto: somos todos gatos na janela.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

dos dias maus

Se é verdade que somos todos filhos de deus, eu aposto que sou a filha bastarda que ele despreza e castiga até mais não - especialmente nos dias de tpm, para se assegurar de que eu vou abrir as torneiras e chorar desalmadamente.

Acordei com uma mensagem pouco simpática: o tipo de quem gostei durante mais de dois anos teve um acidente de carro, para juntar ao de mota que lhe roubou a mobilidade do braço. Isto já é mau que chegue mas, para complementar a coisa, lembrei-me de que pensei nisto há uns dias. Quem é que imagina um gajo de quem gosta a ter um acidente de carro? Eu, por saber que ele não conduzia um carro adaptado. Estamos zangados, não conseguimos conversar, e eu fiquei um misto de arrepiada e preocupada.
Chorei.

Fui passar uma das minhas blusas preferidas a ferro - teria sido a terceira vez que a ia vestir, mas queimei-a antes disso. Pela primeira vez na minha vida, queimei uma peça de roupa a passar a ferro. E logo aquela!
Chorei.

Saí de casa. 
Estava bem disposta e ia a cantar a plenos pulmões, sozinha no carro. Estava tudo bem.
Depois apareceu um gato, à saída da autoestrada, que se lembrou de atravessar; entenda-se que eu sou o tipo de pessoa que já parou porque um passarito decidiu atravessar a estrada aos saltitos, eu já quase parei na autoestrada por causa de um husky, eu fiz sempre o que podia para não magoar nenhum animal - em mais de três anos de carta, foi hoje. Atropelei um gato, que é só o meu animal preferido. Pode ser uma estupidez, mas não me sai da cabeça o momento em que lhe passei por cima e o pobre do bicho a rebolar na estrada.
Chorei.

Fui entregar o cv a um veterinário. Estava lá um gato; olhei para o bicho e lembrei-me de que tinha matado um poucas horas antes. Fiquei carregada de culpa e a olhar para ele em jeito de I KILLED YOUR BROTHER!
Chorei.

Finalmente, sentei-me na cama. Tinha uma conversa pendente mas achei que seria algo tranquilo, não estava preocupada; demorei a conseguir ligar a net. Quando consegui, descobri que afinal havia pontos na conversa pendente capazes de me fazer sentir ainda mais merdosa. Como se não bastasse, o tipo fugiu dela e deixou-me a falar sozinha, por mais que lhe explicasse que isso só piorava e lhe tivesse tentado explicar que me faria mal ficar a imaginar o resto, tudo porque lhe falta coragem.
Chorei.
Bastante.

Tragam-me os chocolates, senão ainda digo um par de coisas de que não me vou orgulhar amanhã.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

terça-feira, 21 de outubro de 2014

pussy magnets, e daí que talvez não

Ia calmamente pela rua, perdida entre a minha música e os meus pensamentos, quando vi dois cães lindos lindos lindos - era um labrador e um pequenino, não faço ideia da raça, mas adoráveis que só eles. Fiquei a olhar, claro está, que uma pessoa está cansadíssima de pessoas mas os animais nunca desiludem. 

Quando olhei melhor, vi o dono estacado a olhar para mim. Apercebi-me de que o meu atraso mental era demasiado evidente e eu estava a sorrir. Para os cães. Mas o dono - devia ser pouco mais velho do que eu - não percebeu isso e ficou a olhar para mim, parado no meio da rua, até eu lhe desaparecer do campo de visão, e a sorrir com cara de parvo.

Isto não é a primeira vez que me acontece - mas o outro gajo era mais fofinho e tinha um gato, o que aumenta em 300% as hipóteses de me conseguir levar ao altar. Já este, epá, foi só creepy e convencido porque eu nem tinha olhado para ele - mas, expliquem-me, estas criaturas já levam os bichos para a rua na esperança de engatarem alguma alucinada amante de bichinhos ou sou só eu que tenho o azar de ser apanhada nestes momentos em que o meu cérebro pára?

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

quinta-feira, 31 de julho de 2014

pois

Ia na rua, de t-shirt e calções, prontíssima para espetar o fat ass na areia quando me cruzo com uma velha com um cão. Mas o cão era pequenino, giro que só ele, e eu até estava a sorrir com o ar de otária de quem vê um bichinho adorável, até que o demónio possui o animal. Meteu-se a ladrar e tentou morder-me, dois segundos antes de a dona lhe ter batido.

Claro que, no mínimo, devia-me um pedido de desculpas. Qual quê? Andas de perna ao léu e ele pensa logo em afiambrar.

Ok, então. Peço imensa desculpa por não andar de calças, já que isso constitui uma ofensa tão grande para o seu cão que ele até tentou morder-me. Tudo bem.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

assim é difícil

Por ter crescido no meio de gatos e ser completamente apaixonada por eles, passo a vida a defender os bichinhos, porque eles não são assim tão maus, porque não são assim tão falsos, porque, quando bem tratados, são mesmo muito dóceis.

Pois sim. Estava a brincar com um dos bichanos muito tranquilamente, e o raio do gato até parecia estar a adorar as festinhas na barriga, rebolava-se todo contente e o caralho, até que... pufff! Deu-lhe um ataque qualquer e agora tenho o braço todo esquartejado. Muy bueno.

domingo, 15 de junho de 2014

o que eu não vos disse

Encontrei três gatinhos bebés absolutamente adoráveis que, por julgar que tinham sido abandonados pela mãe, trouxe para casa. Claro que eu estava nas minhas sete quintas com mais três bolinhas de pêlo, mas entretanto descobri quem era a mãe dos bichinhos e ela andava doida à procura deles. Assim como assim, antes que alimentá-los à seringa - sério, eles não deviam ter mais de duas semanas - não corresse bem, acabei por os devolver à mãe. 

O que ganhei foi autorização para arranjar mais um exemplar para o meu novo hárem de gatos. Desculpem, mas estou estupidamente feliz com isso.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

dramas

Os meus pais demoraram anos a deixar-me ter um gato, e a minha mãe chegou a tentar convencer-me a desistir da ideia de ter um bichano e contentar-me em escolher um pássaro - e eu juro que as minhas histórias com pássaros nunca tiveram finais felizes.

Poucos meses depois de dom kiko ter vindo morar cá para casa, começaram a chegar mais e mais gatos e, quando dei por mim, tinha oito. Claro que isto para mim é a alegria total, ainda que parte deles só venha cá comer e não se deixe agarrar - e o clã tenha sido reduzido a sete depois do atropelamento de um dos bichinhos. Mas tudo bem, os meus pais quase que lidam bem com isto, na esperança de que não chegue mais nenhum.

Ontem, descobri que uma das gatas está grávida outra vez. Temo que os meus pais me entreguem para adoção para continuarem a sustentar a gataria.