Não vos posso dizer que ser auxiliar de saúde seja uma profissão de sonho - não é. Não desempenhamos as funções mais importantes e interessantes do mundo, mas somos parte de um todo; mesmo que hierarquicamente sejamos o elo (ou um dos elos) mais fracos, o hospital não funcionaria sem este gang dos azuis, como decidi chamar-lhe aqui.
Já se sabe que tenho desejos de fuga, que estou ávida de fazer outra coisa da vida e que ando aqui cheia de sonhos e planos e tudo e tudo - mas, por agora, isto vai-me acalentado o espírito e controlando a ânsia. Se lido com merda diariamente? Lido. Se há gente chata, chatíssima? Há. Mas volta e meia aparece um par de olhos doces que precisa quase tanto de atenção e carinho quanto cuidados médicos - ou, por outras palavras, talvez estes se complementem, mas acabem por estar ao nosso encargo, os que andam no terreno mais tempo, os que estão lá para satisfazer as necessidades deles. E eu gosto disso - quem diria? Quis ser fria durante tanto tempo, tentei ser tão indomável, fiz de tudo para não sentir, mas hoje sou toda coração e tento ao máximo que isso se note.
Há dias difíceis - há! Há dias em que estou tão cansada que chego a casa e acho que vou adormecer sem sequer jantar. Mas já vi sorrisos de pessoas que nunca sorriem a mais ninguém. Já vi alguém só aceitar comida dada pela minha mão. Já ouvi dizerem-me que era a preferida e elogiarem-me por ostentar um sorriso de orelha a orelha como se fizesse parte da farda.
E, para mim, faz.
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