sexta-feira, 30 de setembro de 2016

my merda de feitio and i, take 2

O problema é que eu não me limitei a cancelar os planos para o fim de semana - eu também já acabei com tudo o que há entre nós. Na minha cabeça, já encontrei 928920 frases perfeitas e essenciais para que ele entenda exatamente o porquê de eu estar zangada e de querer mandá-lo de volta para o útero da mãezinha dele, e isto vai durar exatamente até ao momento em que eu ouvir a voz dele.

Embora me apeteça mais cair num rio cheio de crocodilos do que acabar com isto

my merda de feitio and i

Nunca senti a minha instabilidade e a minha insegurança tão à flor da pele como desde que ele apareceu na minha vida: estou sempre a querer ir e a querer ficar ao mesmo tempo. Estou sempre zangada  e derretida em simultâneo; nunca sei o que pensar e, às vezes, acho que estou melhor assim. Outras não.

Os fins de semana servem-me de reforço positivo nos dias maus - e hoje devia ser um dia bom mas estou estupidamente desapontada outra vez e já decidi mandá-lo às couves. Ele ainda não sabe que cancelei os planos na minha cabeça, porque o plano é o mesmo de sempre: fugir antes de me magoar. E, inevitavelmente, magoar-me exatamente por isso.

lógica

Quando acharem que as gajas são complicadas, lembrem-se disto:

Há um espécime, do sexo masculino, de quem eu gostei mesmo a sério durante quase dois anos. O moço teve - e tem - problemas sérios e eu fiquei ali, firme e segura de que nunca o abandonaria, desse por onde desse. Aturei birras dele, semanas sem me falar, por compreender que a situação era complicada e eu estava disposta a continuar ali. Porque gostava dele e porque nada mudava entre nós.

Foram semanas, meses, a chorar baba e ranho por causa de um tipo que se comportava de forma muito pouco simpática em relação a mim. Foram meses em que corri atrás dele para o tentar confortar quando eu própria precisava de colo, numa altura em que a minha vida estava um caos.

Mandou-me embora: continuaríamos amigos mas ele já não gostava de mim como antes. Queria que seguisse em frente; resisti, ainda assim, durante meses. Ele é parvo mas vale a pena, juro que vale; apesar de tudo, eu compreendia-o. Mas um dia cansei-me: não dava para continuar a bater com a cabeça nas paredes por alguém assim.

Segui em frente e ele foi o primeiro a saber; não soube lidar com o facto de eu lhe ter dito que os meus sentimentos em relação a ele tinham mudado, mas disfarçou. Ficou enciumado quando soube que tinha começado a sair com outra pessoa, mas também se aguentou. Depois percebeu que as coisas tinham avançado, que estavam mais sérias e que eu tinha, finalmente, conseguido arrumá-lo na posição em que ele me pediu que o colocasse.

Mal me fala desde então.

senti-me um arrumador de carros

Acreditem quando vos digo que é mais fácil lidar com um surdo-mudo do que com um alemão cujo vocabulário português não vai além do obrigado e do porco.

E não, não ousei perguntar como é que alguém descobriu, num serviço de urgências, que o homem sabia dizer porco. Achei melhor não descobrir.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

.

[no dia em que te despediste com um adoro-te, pela primeira vez, tive medo.

nunca te disse, mas sou muito esquisita com as palavras; mais do que qualquer outra coisa, gosto que estejam arrumadas, ordenadas, cada qual no seu lugar, cada qual no seu tempo. e tive medo - arrepiei-me - porque senti que era cedo demais. porque temi que, com a pressa de sentir, sentíssemos tudo de uma vez e nos esgotássemos as hipóteses. tive medo de não ser sincero - mas depois percebi o que querias dizer.

sempre odiei casais pirosos - desses que andam por aí de mãos dadas, que se beijam em público, que se abraçam só porque sim. achava desnecessárias e exibionistas as demonstrações de carinho à frente de toda a gente: depois apareceste tu e deste-me a mão. apareceste tu e abraçaste-me enquanto eu estava a ouvir a tua banda preferida. apareceste tu e beijaste-me, no meio de tanta, de toda, a gente, só porque sim. apareceste tu e começámos a ser um casal piroso. e eu gostei disso.

apareceste tu e não me vou esquecer de ti: não me vou esquecer dos abraços prolongados, carregados de saudade, de carinho, de desejo. apareceste tu e não me vou esquecer dos teus beijos na testa, na bochecha, no cabelo. apareceste tu e prometo guardar para sempre os sussurros, trocados quando nem seria preciso sussurrar, só porque tudo parece melhor quando o mundo somos só nós. apareceste tu e eu tenho medo todos os dias, medo de me ligar demasiado, medo de me magoar outra vez, medo da incerteza de um vamos ver no que dá. medo de que percebas que mereces melhor contrabalançado com o orgulho de, ainda assim, me teres escolhido. 

foi quando apareceste que aprendi que há coisas que têm de ser ditas na hora em que se sentem, sem guardar para depois: amanhã talvez eu já não goste de ti, mas hoje sei que foste a bonança por que eu tanto ansiei depois de meses e meses de tempestade. sei que foste o melhor possível em muitas - tantas - situações. e obrigada por não teres desistido de mim, mesmo depois de perceberes que sou terreno minado. obrigada.

mais tarde, também me despedi com um adoro-te. e acredita quando te digo que adoro mesmo.]

ninguém acha piada mas eu ainda me rio quando me lembro

Uma senhora, algaliada e com fralda, que eu tinha ordens expressas para não permitir que se levantasse, insistia que queria ir à casa de banho. Mesmo depois de lhe ter explicado três mil vezes que não podia sair da maca, a jovem, no pico dos seus setentas e muitos, aprontava-se para saltar por cima das grades e começou a tentar arrancar a sonda vesical.

Adverti-a: se continuasse a puxar daquela maneira, iria acabar por se magoar. A resposta? 

- ó menina, eu tenho de tirar estes tubos porque eles não chegam à casa de banho!

Ah. 
Esta mania de prender as pessoas à cama com sondas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

para que conste

Estou viva e ainda não foi desta que desisti do blog. Como vossa seguidora, continuo a merda do costume: mas hei de voltar em breve.

Palavra de cinderela.

sábado, 24 de setembro de 2016

frustração

É passar a semana a contar os dias que faltam para o dia de voltar a estar com o moço. É ficar com um sorrisinho tolo de cada vez que penso nisso. É planear tudo, organizar tudo, para poder estar com ele em paz.

E os planos irem todos por água abaixo no último momento.

domingo, 18 de setembro de 2016

sexta feira

Velhinho, pequenino, frágil, sentado numa cadeira de rodas na sala de espera, chorava. Chorava muito. Olhei-o, renitente; sei que não gostam da ideia de irmos a correr falar com os doentes, sei que, num hospital, chorar é tido como um comportamento normal, tão banal que não vale a pena abandonar os nossos afazeres. Olhei-o outra vez e não pude resistir.

Era o desespero de se ver doente, numa cadeira de rodas. A sensação de ser inútil, de só trazer problemas, de ser aquele o seu fim - e chorava, aquele velhinho pequenino e frágil. Chorava porque preferia morrer a ver-se assim, a dar trabalho. Um par de olhos azuis marejados de lágrimas e cheios de sofrimento; não sei que doença ali o levou, mas vi a dor que carregava e isso foi mais do que suficiente para mim.

Na sexta feira foi a primeira vez que me fui embora por não aguentar sentir as lágrimas nos meus próprios olhos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

percebe isto

A minha confiança é como um castelo de cartas construído em cima de um vibrador em funcionamento. 

E tu teimas em metê-lo no máximo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

- Podemos ficar assim para sempre?, sussurraste.

[Houve mil e uma tempestades antes de chegares à minha vida, mil e um dias em que me questionei sobre o mal que eu teria feito a esse deus de quem tanto falam para me sair sempre em sorte tanto azar. Houve mil e uma preces por dias mais felizes, por pessoas melhores, por momentos em que alguém me fizesse crer que todas as tormentas são recompensadas, mais tarde ou mais cedo. Mas, perdida no teu abraço, não existem dores nem tempestades, nem dias maus nem recordações dolorosas: existe uma espécie de paz. Um refúgio.

No teu abraço, não há fantasmas: existes tu a plantar-me beijinhos na testa, na cabeça, na bochecha, e a lembrar-me de que não preciso de ter medo, a dizer-me que gostas de mim e que vai correr tudo bem. Não me sobra espaço para temer o que me fazes sentir quando sussurras, junto aos meus lábios, que eu sou especial. Que sou bonita. E, pela primeira vez, sinto que alguém me vê realmente dessa forma. Pela primeira vez, acredito - e essa vai ser sempre a tua maior vitória.

Ajeitei a cabeça no teu ombro e apertei-te mais contra mim: fomos rápidos a acertar o passo, a aprender a encaixarmo-nos um no outro, a entrar em sintonia. Descobrimos gostos e manias com a sagacidade de quem tem pressa de absorver tudo num instante - e, no entanto, deixámos tanto, mas tanto, para depois. Para não esgotar as hipóteses, para não estragar o encanto. Para apreender com o tempo. Para precisarmos de mais tempo - e eu estou a adorar passá-lo contigo. Gostar de ti é um desafio constante: ainda temos muito de nós para domar. Ainda há muito de nós que falta enquadrar - e, mesmo assim, já está quase perfeito. 

Nunca te poderia agradecer o suficiente por não me teres deixado ir na altura em que te tentei fugir - espero nunca fazer com que te arrependas disso. Espero que te orgulhes por me teres feito ficar. E fazer-te tão bem quanto me tens feito a mim.]

- Por mim sim - respondi-te. Por mim, ficávamos assim para sempre.

domingo, 11 de setembro de 2016

e fez-me sorrir, que fez

Armados em casalinho piroso, nojento e horrível, puxou-me para ele e beijou-me, no meio de uma praça cheia de gente a assistir, de cuzinho refastelado nas diversas esplanadas.
De repente, passa uma criatura, com uma crista esquisita, e diz:

é o amor, é o amor! tem de ser mesmo assim. e são um casal bonito, ela é linda!

Isto serviu essencialmente para mostrar que:

a) se correr mal com o mocinho, há um gajo esquisito que me acha bonita, é só procurar;
b) definitivamente, estar acompanhada faz com que me vejam com outros olhos;
c) se calhar estava na altura de parar de achar que sou um patinho feio.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

dos hospitais

Fiz os dois primeiros estágios numa enfermaria, mas tinha o coração nas urgências; a minha alma irrequieta e desassossegada andava sedenta de novidades, de imprevisibilidade, de adrenalina. De desafio: o desafio da minha resistência, do meu sangue frio, da minha capacidade de lidar com situações caricatas.

Uma semana depois, confesso, ainda me sinto perdida volta e meia. Ainda não vi nada que me fizesse recuar, ainda não houve nenhuma situação que me causasse realmente impacto, ainda não fiz nada que achei que nunca faria - mas percebi que estou exatamente onde queria estar.

Gosto do facto de não haver tempo para pensar e que há uma diferença muito ténue entre ser-se auxiliar e psicóloga de corredor. Mas daquelas que fazem consultas de trinta segundos porque, logo a seguir, há mais três doentes que precisam de ajuda para ir à casa de banho, uma de que decidiu vomitar, quatro enfermeiros a chamar e uma corrida urgente para ir buscar mais uma maca. E é tudo urgente. E é tudo para ontem.

Volta e meia até o rigor falha porque não há tempo para se ser rigoroso, quase mesquinho; há correrias, há azáfama, há pressa, há atrapalhação. Volta e meia ainda me sinto perdida, volto a dizer, mas não queria estar perdida noutro lugar.

Conseguir não pensar em mais nada é, possivelmente, a melhor terapia de sempre.

bullying nos hospitais

Todo um novo conceito encetado por uma senhora que se encontra em isolamento - por existir perigo de contágio - se queixou de que se sente discriminada, que não entende porque é que temos medo dela e não nos aproximamos sem bata e luvas. Que não nos vai pegar nada - p'la mor deus! -, que até usa a mesma casa de banho que a neta.

Está bem, senhora, mas eu quero um gato, não quero um bicharoco destes.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

isto.

Volta e meia abro o meu blog e tenho saudades de mim: saudades de um tempo em que eu escrevia por gosto, por prazer, por paixão à escrita, à vida, ao sentir. Agora não consigo. 

Às vezes penso nisso. Penso na falta que me faz saber pôr a alma a nu, penso no tempo em que me divertia a escrever e o meu blog não parecia um diário adolescente que uso como escape para evitar fazer mais asneiras do que as que faço habitualmente: nunca me resta mais nada a dizer. 

Às vezes apetece-me pedir desculpa. Eu também não gosto do cinderela agora; é o reflexo de um estado emocional de que não me orgulho. É a prova de que não está tudo bem, de que ainda não consegui voltar a mim depois das últimas idas ao tapete. É a prova de que toda eu sou medos e anseios absurdos, de que a minha necessidade de me proteger é tal que sou cada vez mais insegura. A prova de que me isolo, de que fujo de tudo o que representa uma ameaça para a minha infelicidade: tudo o que me possa fazer feliz é bem vindo, mas não é de confiança.

Volta e meia apetece-me apagar isto, mas depois deixo-me inundar por uma réstia de esperança e fico. Fico à espera de melhores dias, de melhores sentimentos, de melhores histórias.
E, quando der por isso, volto a ser mais feliz.

isto é tão ridículo que me apetece bater a mim mesma

Ele ainda não sabe, mas afinal já não vamos estar juntos no fim de semana. E porquê? Porque ele está quase sempre online e hoje esteve 8h seguidas offline, e então eu decidi fazer filmes na minha cabeça - algures entre o romance e o porno - e zangar-me. Melhor: não lhe comunicar a zanga. Não lhe dizer nada até que se aperceba de que cancelei os planos.

E porquê? Porque sim. Porque sou gaja - a mais complicada da história das gajas complicadas. E porque tenho um feitio de merda que nem eu consigo domar; não confio. Não há nada a fazer.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ainda não lhe contei que tenho um blog

[não te vou mentir: às vezes ainda me apetece fugir. apetece-me fugir exatamente na mesma medida em que te quero agradecer por não deixares. por teres aparecido na minha vida. às vezes quero fugir-te porque tens um sorriso adorável e porque o teu abraço é o meu novo lugar preferido; repito para mim o mantra não te apaixones, não te apaixones, não te apaixones, como se acreditasse realmente que está ao meu alcance impedir-te de me tocares o coração. 
não te vou mentir: às vezes também tenho medo que me fujas. lidar comigo é como viver em terreno minado: assusto-me, temo a minha própria sombra, temo os meus sentimentos. e os teus. mas depois vens e o mundo é mais bonito outra vez: e é a minha mão que se perde na tua, e é a minha cabeça contra o teu peito, e são as tuas palavras a fazer-me sentir.
não sei quanto tempo vais ficar na minha vida - não sei se serei corajosa que chegue para não te mandar embora. mas sei, tenho a certeza, de que és a resposta às minhas preces.

obrigada. 
obrigada por seres a coisa boa que eu tanto pedi.]