domingo, 20 de dezembro de 2015

adeus,

Não acredito em almas gémeas ou em predestinações, mas acredito que, às vezes, temos a sorte de encontrar alguém que nos faz sentir tão confortáveis que se tornam na nossa casa, na casa para onde fugimos quando temos medo, na casa onde gostamos de ficar quando estamos tristes, na casa para onde queremos correr para comemorar quando estamos felizes, na casa que queremos fazer mais nossa a cada dia que passa. De uma forma estranha, tu és a minha. Ou eras.

Se me quisesses ouvir, não te pediria desculpa - também estou cansada disso, de discussões, de desculpas, de acordos tácitos, de problemas varridos para debaixo do tapete. Se me quisesses ouvir, recomeçariamos. Eu prometeria ser mais calma se prometesses ser menos calmo. Eu prometeria ser menos insegura se prometesses ter paciência até eu voltar a ter pé. Eu prometeria ser diferente, se tu também prometesses. O erro está nos dois.

O meu problema é que nunca soube ter calma - sempre fui dessas pessoas que morrem antes de levar com a bala, que sentem necessidade de falar sobre o assunto nos dois nanossegundos seguintes a ter surgido um problema, uma dúvida, um mal entendido - disparo antes de saber para onde, para quem, porquê. Disparo antes de ter tempo de pensar. 

Tu és o oposto, e isso irrita-me, magoa-me, dá-me a volta à cabeça - consegues passar dias sem falar se essa for a melhor ou a única forma de evitar uma discussão, apesar de saberes que isso faz com que o problema cresça, com que se torne cada vez mais difícil para mim geri-lo, que eu esteja a sofrer com o teu silêncio. Tanto egoísmo, tanta covardia, dão-me tanta vontade de fugir quanto aquela que sentes pela minha impulsividade.

Se fosse forte o suficiente para te perder pelas minhas próprias mãos, garantia que nunca mais me havias de encontrar em lado nenhum, mas não consigo - há sempre aquele meu lado que, mesmo ferido, resiste e se obriga a ser o último a morrer no meio da guerra que é isto que sentimos, e esse meu lado ainda está aqui, à tua espera, à espera de que voltes, à espera de que isto faça sentido. Apesar de acreditar cada vez menos que isso aconteça.

Li num livro que não há palavra mais triste, em qualquer língua, do que adeus. Talvez tenham razão, mas esqueceram-se de mencionar que dói mais quando esse adeus não chega a existir, quando as horas passam e a despedida não chega, quando tudo o que resta é dor e incerteza, quando não há uma única noite em que eu não acorde com este nó no peito. E quando misturada com toda a tristeza há ainda uma raiva crescente pela tua incapacidade de pensares em mim, por saber que definitivamente não estás a sentir o mesmo, por estar certa de que não te importas.

O que resta, é desistir. 
Assumir que deixaste de ser a minha casa, que já não há lugar para mim aqui. Fechar-te a porta para tudo aquilo que sou, trancá-la a sete chaves para deixar o meu coração a salvo - mas, já sabes: a chave suplente está no sítio do costume.

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