sábado, 30 de janeiro de 2016

não morri,

Tenho dado o meu melhor para não pensar nos últimos dias - ocupo a cabeça com tudo o que encontro e, quando finalmente tenho tempo para refletir, deito-me; tenho dormido mais horas, e começo a desabituar-me a acordar a meio da noite, mas não durmo tão bem. Quando acordo, só me resta a sensação de vazio e a falta que me fazes. O que é que nos aconteceu?

Gozavas comigo quando te dizia que tinha acabado um livro e não sabia o que fazer com a minha vida - estava a brincar, nessa altura, mas agora é mais ou menos assim que me sinto. O que é que fazemos quando perdemos uma das poucas coisas boas que tínhamos? Para onde vamos quando parece não restar um sítio para onde ir? Como é que sobrevivemos quando o mundo parece desmoronar em cima de nós?

Não sei quem posso culpar; eu, tu, o acidente ou o tempo. Todos, talvez - não foi fácil, nunca foi fácil, mas estava certa de que valia a pena tentar. Ironicamente, ainda estou, mas não há nada a fazer; quem me dera, meu amor, poder recuar exatamente três meses. Quem me dera poder ter mudado o teu destino naquele dia, quem me dera ter adivinhado, quando me ligaste a meio da tarde, que essa seria quase a nossa despedida. Que, poucas horas depois, a tua vida iria mudar para sempre.

Nunca podemos prever o passo que se segue - mesmo eu, que planeio tudo, sei que faço tudo torto e que não tenho paciência para seguir uma rota certa, e ainda tenho de contar com as rasteiras da puta da vida. Mas desta vez ela foi longe demais; foi uma puta para ti. E para mim.

Talvez nunca tenhas percebido o quanto me doeram estes meses. E ainda doem, claro - mesmo que ao longe, agora que te perdi, estou a torcer por ti porque nunca te poderia desejar outra coisa que não o melhor. Só preferia que me tivesses deixado ficar ao teu lado, neste momento e em todos os que te seguissem. Preferia que não tivesse sido isto a afastar-nos, nem nada deste mundo.

Menti-te, ainda assim. Disse-te que iria desaparecer definitivamente, mas é mentira; continuo lá, com a porta entreaberta, no caso de quereres voltar. Disse-te que iria embora, mas nunca o poderia fazer; gosto de ti, porra! Onde é que eu hei-de ir sem o meu coração?

2 comentários:

Anónimo disse...

Só me veio à memória a música do Rui Veloso:

Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão

Mas nunca
Me esqueci de ti
Não, nunca me esqueci de ti

ernesto disse...

Uma música de que eu gosto bastante, já agora :)