Talvez eu não devesse ter roubado isto ao shiuuuu, e talvez nem importe, mas esta é a tal lambada de luva branca às pessoas com baixa autoestima que se refugiam na ideia de que são incapazes de afetar a vida de quem quer que seja. Eu incluída.
Quando era bem novo, ainda andava no 6º ou 7º ano, eu era um menino bem tímido e introvertido. Os dias de escola eram passados a desejar que simplesmente acabassem. Eu não gostava de mim e, na minha cabeça, a ideia de que alguém gostasse de mim era ridícula; quem iria gostar de um miúdo desajeitado que era gozado por uns e ignorado por outros? Mas, um dia, tudo mudou. Estava eu na minha secretária, atento a uma aula de história, e chegou um bilhete. Esse bilhete era uma declaração.. Vi de quem era e olhei para ela. Ela estava de cabeça baixa. Ela era bem tímida e com um estilo muito melancólico. Era mais velha do que eu 3 ou 4 anos.
Eu li a carta e a guardei dentro do caderno. Pensei, para os meus botões, que estavam a gozar comigo. Como é que uma rapariga iria olhar para mim e declarar-se daquela forma, principalmente mais velha do que eu?
No fim da aula eu fui falar com o professor, devido a um atestado médico, e uma amiga dela pensou que eu estava a falar da carta.. No dia seguinte ela não apareceu e a amiga veio ter comigo e implicou comigo, berrou comigo, porque me foi dado algo e eu fiz queixa a um professor. O que era mentira.. ela nunca soube que era mentira..
Na manhã do dia seguinte, o director de turma nos juntou na sala e nos contou a noticia mais dura que recebi até hoje - "a vossa colega de turma faleceu.. " - Mais tarde vim a descobrir que ela se tinha suicidado junto com o namorado dela (toxicodependente), que acabou por sobreviver. Ainda me lembro de ir ao velório dela e ver a marca da corda no pescoço e sempre que me lembro dela um aperto eu sinto no meu próprio pescoço. O que realmente aconteceu, quando recebi a carta, foi que eu simplesmente a ignorei; "como poderia alguém gostar de mim? Logo de mim?". Ela procurava um pronto seguro, uma mão que a segurasse, e eu, simplesmente a ignorei.
Numa aula, antes de irmos para o funeral dela, a amiga leu um poema escrito por ela. Era uma carta de despedida dedicada aos amigos e com palavras dedicadas a mim. Senti como se o coração me tivesse sido arrancado naquele mesmo instante...
A ideia de que uma vida dependia da minha reacção é algo que até hoje me assombra ma que me moldou para a pessoa que hoje me tornei. A culpa que sinto por ter sido um miúdo cobarde, com fraca auto-estima e incapaz de agir obrigou-me a mudar quem eu sou.. para o que hoje eu sou e tento ser. O nome dela nunca o irei esquecer. Irá ficar sempre gravado como lembrança de que eu devo ser bem melhor e que vidas podem depender da minha acção.
Hoje, olho à minha volta e vejo o quão verdade isso é. As vidas que já mudei e as vidas que ajudo a mudar..e a tornarem-se um pouco melhores.
Entre outras experiências também importantes durante o curso da minha vida, foi ela que me inspirou a ser quem eu sou hoje. Ela ensinou-me uma lição muito valiosa que jamais irei esquecer.
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