Isto é um bocado triste, mas o anónimo deixou-me a pensar em qual seria a imagem que cada um de vocês tem de mim. E depois apercebi-me de uma coisa meio estúpida, mas que não deixa de ser verdade; às vezes eu até me sinto mal com os vossos elogios.
Para meter isto em pratos limpos, é verdade que eu tento que a patrícia do blog seja um espelho da patrícia real. O problema é que às vezes, ao ler o que vocês por aqui me vão dizendo, fico com medo de estar a passar uma imagem completamente errada de mim, e eu não estou aqui para enganar ninguém.
Em primeiro lugar, e digo-o mais uma vez, eu não digo que sou feia e o caralho para que me digam o contrário. Digo-vos mais: nem sequer sou normal. Tive a sorte de ser aquela uma num milhão que nasce com lábio leporino e vive o resto da vida a perguntar-se porque raio, entre tantos outros espermatozóides, e até mesmo entre tantos outros óvulos em tantos outros meses, tinha de sair uma aberração como eu. Se era para nascer eu, mais valia que o filho da puta do espermatozóide tivesse morrido pelo caminho. E sim, sou mesmo anormal, estranha, tenho um nariz horrível e odeio-me por isso.
Ser diferente não é divertido. Acreditem, não é mesmo e mete-me nojo ver quem quer que seja a gozar com isso. Estou-me a cagar se gozam com os putos do swag, se gozam com as pessoas com bigode, ou com o clube das virgens que se vestem todas à puta, têm vida de puta, assumem-se putas, e depois fazem-se de muito ofendidas quando lho atiram à cara. Eu própria gozo com isso, e não, não me arrependo nem um bocadinho. Sei que me estou a rir de escolhas, e não do azar de ter nascido assim.
Para muitos de vocês, acredito que isto seja um drama absurdo, que não tenha sentido nenhum eu falar como se preferisse que o aborto fosse legal há 18 anos atrás, mas para mim é mesmo isso. Eu sou essa pessoa anormal que está farta de ser gozada, que se convence de que toda a gente se está a rir dela e que se algum gajo olha é por puro nojo ou gozo. Se contasse metade daquilo que penso, já estaria internada num hospício.
Isto para dizer que eu não sou a pessoa que vocês pensam que sou. Não sou a épica, a genial, a peculiar. Juro, não sou mesmo. Se me conhecessem, perceberiam que sou só a típica croma, azeda pra caralho e com a mania que ainda consegue mudar alguma coisa se olhar para as pessoas como se as fosse esfolar. E, no fundo, a maior parte de mim é insegurança e a outra parte é indecisão. Não sou a pessoa fora do comum que alguns de vocês parecem pensar que sou. Aliás, sou; sou-o mas por maus motivos, como agora o podem entender.
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