[decidi despedir-me de ti porque ficar aqui começa a ser algo penoso e eu sei que não mereço isto. não quero ficar sentada na mesma esquina, anos e anos a fio, à espera que decidas presentear-me com dois minutos da tua atenção de três em três semanas, se não chover - preciso de mais do que isto, de muito mais, e foi por isso que decidi despedir-me de ti. vou-me embora, meu amor, vou-me embora de ti e dessa prisão emocional que criei à minha volta, dessa fieldade que não te devo. não te devo nada e ainda me julgo no direito de te reclamar o respeito que nunca tiveste pelos meus sentimentos - entendo-o agora. eu precisava de espaço e tu nunca soubeste dar-mo. ou soubeste, mas nas tuas idas e vindas ias-me deixando com a esperança cega de que um dia decidirias ficar de vez. tão burra que eu fui, coitada. preciso de sair daqui, preciso de esquecer-me de ti tal como fizeste questão de te esqueceres do que eu sentia. não gosto de dizer que desisti - prefiro a teoria de que me cansei de esperar por quem não prometeu vir, que preferi fazer pela vida em vez de ficar aqui, sempre pronta, sempre presente, sempre disponível para te receber de braços abertos. e eu gosto de ti, juro que gosto, mas cansei-me das horas mortas, dos dias mortos, das semanas mortas. não é isto que eu quero para mim, não preciso de um punhado de ilusões e dois de angústia. gosto mesmo muito de ti mas não dá para continuar na sombra enquanto a vida me passa ao lado, enquanto me recuso a deixar-me ir porque me sinto presa a um gajo com quem não tenho qualquer compromisso e que pouco se importa com isso - cansei-me, meu amor, e há um momento em que se torna essencial fazer as malas enquanto se tem dignidade suficiente para sair pela porta da frente com o ar despreocupado de quem não deve nada a ninguém. este é o meu momento e é por isso que me despeço de ti agora, na madrugada fria de um verão estranho, e te peço que vás atrás de mim, que me agarres e que me implores que não vá. que me impeças de te deixar aqui mas que, de uma vez por todas, dês valor à minha presença. mas saio agora porque não vês, porque assim posso convencer-me de que realmente me pedirias que ficasse se ainda tivesses oportunidade - se me vou embora, ao menos que fique com a ideia de que tive importância. de que te importaste. de que podia ter sido mais, só não foi por cobardia. gosto mesmo muito de ti, mas é assim que me despeço de ti. levanto-me agora, sigo pela estrada fora e prometo nem pensar em olhar para trás. adeus.]
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