sábado, 31 de outubro de 2015

sobre os dias de angústia

Há dias assim, em que o coração fica pequenino, pequenino, e as horas teimam em não passar. Há dias em que a ausência de notícias me sufoca, me impede de respirar. Há dias em que angústia é a palavra do dia e eu me sinto perdida por não poder fazer nada. Há dias em que eu odeio ainda mais a distância e a impotência de estar do lado de cá. Há dias em que lamento que tenhamos força suficiente para construir pontes sobre o abismo que nos separa, mas que sejam sempre pontes de ar, suficientemente fortes para que quase consigamos sentir os dedos enlaçados mas nunca  fortes o suficiente para que os consigamos enlaçar.

Há dias em que me pergunto como que raio me fui meter nesta situação, como é que me permiti a ligar tanto a alguém que o facto de saber que há alguma coisa errada me parece chumbo cravado no peito - mas depois lembro-me de tudo, de todas as conversas tardias, de todas as vezes que ele me fez rir - de todas as que me fez chorar também. E lembro-me que, ainda ontem, na última vez que o ouvi, ele me ligou a meio do dia só para dizer que gosta muito de mim. Como poderia não me ligar?

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

mas vocês pensam que isto não pode piorar?

Uma pessoa vem aqui em estado de choque porque - graças ao spotify, sempre por culpa dele! - esteve a ouvir uma playlist que ia de adele a redfoo, mas hoje dei por mim a ouvir um álbum da celine dion, em francês.

(não sei se atenua a minha pena, mas a verdade é que são músicas que eu costumava ouvir em pequena com a minha tia e, volta e meia, volto a ouvi-las quando tenho saudades dela. hoje descobri que o spotify o tem e estou mais feliz.)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

vim só dizer isto

Por mais que me tente armar em macho latino, sou uma gaja como todas as outras - encontrar as chaves ou o telemóvel dentro da mala é sempre uma árdua tarefa que, volta e meia, me fazem despejar todo o conteúdo da dita em público.

Para me tentar organizar, comprei uma bolsinha paneleira - um necessaire, se quiserem - para meter a parafernália inerente às fêmeas (um perfume de bolso, desodorizante, toalhitas, tampões, baton do cieiro, creme de mãos, e tudo e tudo e tudo), naquela de tentar transformar a minha mala num sítio mais organizado e que me deixasse menos susceptível a embaraços.

O que é que consegui?
Uma mala com dois monos dentro (sim, também tenho uma carteira xxl), continuo a não encontrar nada lá dentro e, de vez em quando, lá calha precisar do baton ou do creme e quase montar uma banca de exposição de pensos e tampões e cenas que tais. 
Desisto.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

cinderela, uma dona de casa desesperada

Não, não cheguei a ter tempo de tocar no trabalho se quero ir mais cedo para o ginásio - e aspirar o carro também vai ter de ficar para amanhã. Shame on me.

cinderela, a nova dona de casa

Uma pessoa percebe que cresceu quando tem uma tarde livre e, em vez de a dispensar a ver vídeos de gatinhos fofos no youtube - e acabar numa parte estranha onde mostram partos e borbulhas gigantes a ser espremidas -, a pintar as unhas, a ler (ai o murakami ali a chamar por mim) ou simplesmente a vegetar, chega a casa e dá por si a planear a tarde com uma to do list pouco animadora:

passar a ferro;
aspirar o carro;
arrumar o quarto;
adiantar o trabalho que já devia estar feito;
arranjar-me a tempo de ir a horas decentes ao ginásio, para ver se deixo de chegar a casa tão tarde.

Isto tudo em, mais coisa menos coisa, 2 horas. Uhm uhm.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

vou só deixar isto aqui



Parece-me importante anotar que:

1) as minhas skills para fazer montagens são exatamente o que se vê: sei fazer desenhos no paint, só;
2) limitei-me a cortar nomes e comentários e tudo e tudo - as hashtags foram mesmo colocadas ali pela criatura;
3) estou a perder a fé no mundo;
4) vou só ali tirar uma foto no bidé, até amanhã.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

a saga continua

Isto também podia ser sobre como o spotify me trama de vez em quando - está aqui uma moça a amanhar um trabalho chato como tudo, de fones nos ouvidos e a tentar manter um semblante sério, como se estivesse a ouvir chopin ou o diabo a quatro, e isto vai de adele, que teve um efeito estranho em mim, a redfoo.

Fica um bocado difícil parecer normal quando se está sentada em frente a um computador, ao som da juicy wiggle.

o peixe morre pela boca, ou a adele não serve para pessoas felizes

Shame on me - depois de tanto ter criticado todos os casalinhos fofos que, emotiva e apaixonadamente, dedicavam a someone like you ao morxituh da vida deles, dei por mim a ouvir a hello, também da adele, com um sorriso de orelha a orelha, como se fosse a música mais feliz deste mundo.

E nem uma palavra acerca do facto de eu estar a ouvir adele, boa? Boa.

domingo, 25 de outubro de 2015

e só mais isto

As nossas vidas são uma partitura complexa, pensou Tsukuru. Cheia de semicolcheias e fusas, entre outros sinais crípticos e anotações de significado obscuro. Interpretá-la corretamente revela-se uma tarefa árdua e, mesmo que se consiga fazê-lo e produzir os sons corretos, não significa forçosamente que as pessoas captem e compreendam o sentido implícito. Não há garantia de que isso traga felicidade. Por que razão a vida tem de ser tão complicada?

Haruki Murakami,
a peregrinação do rapaz sem cor

e isto

No mais profundo do seu ser, compreendeu por fim. O que une o coração das pessoas não é apenas a harmonia. Os corações humanos unem-se através dos desgostos sofridos. Ferida com ferida. Dor com dor. Fragilidade com fragilidade. Não existe silêncio sem um grito de dor, não existe perdão sem derramamento de sangue, não existe aceitação sem a inevitável passagem pelo sentimento de perda. É aqui que se encontram as raízes da verdadeira harmonia.
Haruki Murakami,
a peregrinação do rapaz sem cor

mais ou menos isto

Aquilo não lhe saía da cabeça. Talvez o meu destino seja ficar sozinho, chegou a pensar. As pessoas aproximavam-se dele, mas depois, no fim, acabavam sempre por partir. Vinham ter com ele à procura de alguma coisa e, ou porque se mostravam incapazes de encontrar o que pretendiam, ou por ficarem desencantadas com o que encontravam, davam-se por vencidas e desapareciam. Um dia, subitamente, volatilizavam-se. Sem uma palavra de despedida, sem grandes explicações. Como se um machado afiado cortasse de um só golpe os vínculos que os uniam, pelos quais ainda continuava a correr sangue quente que fazia palpitar as veias.
Havia nele qualquer coia que afastava os outros, qualquer coisa de primordial.

Haruki Murakami,
a peregrinação do rapaz sem cor

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take8

Pensando bem, eu tornei-me estupidamente mais calma desde que fui para o hospital - paciente para ouvir, paciente para aceitar o ritmo de cada um, paciente para caprichos, que os há, dos doentes que viam em nós a única fonte de mimo. E, sobretudo, paciente o suficiente para me contentar com um revirar de olhos discreto sempre que alguma coisa me aborrecia.

Depois apercebi-me de que não gosto de mim assim, embora só tenha pensado nisto mesmo a sério quando, depois de ter pintado o cabelo de vermelho (finalmente, o vermelho que eu ando a tentar encontrar desde os 16 anos!), uma enfermeira me disse que não conseguia enquadrar a minha personalidade naquela cor, e eu dei por mim a perguntar o que raio ando eu a fazer à minha vida e em que momento é que me deixei transformar em alguém que passa por uma pachacha mole assim.

No entanto, não tive muito tempo para refletir muito sobre o assunto porque aconteceu tudo à velocidade da luz - num momento eu estava na santa paz de nosso senhor, e no momento a seguir estava a mandar vir com uma auxiliar pela forma como tinha tratado o doente. Revoltou-se, fez queixa, assobiei para o lado. Fez queixa a toda a gente, conseguiu meter outra também a tentar irritar-me - teve azar; domino a arte de ser cabra a sorrir e a criatura acabou por desistir.

Agora perguntam-me: mas não tiveste medo das consequências?
Tive, que tive. Sei que não sou de lá, que sou uma mera estagiária que não tem voto na matéria, e tive mesmo medo que dois surtos de irreverência seguidos me podessem prejudicar muito. Mas depois falei com o meu tutor e percebi que está tudo bem - todos sabem o que as criaturas são e o que fazem. Todos sabem que eu tive razões para dizer o que disse.

O que eu continuo sem perceber é porque é que, tendo em conta que toda a gente sabe o tipo de comportamento que elas têm em relação aos doentes, nunca ninguém as confrontou.

Depois apareci eu e o meu feitio mansinho.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take7

Nem tudo tem sido um mar de rosas - há relativamente pouco anos, perdi um familiar naquele hospital, naquele mesmo serviço. Uma das pessoas que mais me doeu. E que ainda me dói.

Não há um único dia em que não me lembre disso: foi ali que ele morreu.
Surdo, fraco, completamente dependente deles para tudo - foi ali que definou aquele que me viu crescer, aquele que, mesmo não sendo sangue do meu sangue, sempre me assumiu como neta, como a neta mais velha. Mas nunca tinha pensado em como teria sido realmente.

Hoje eu sei: era só mais um a dar trabalho. Mais um para dar banho no leito porque, nos últimos tempos, já mal abria os olhos, quanto mais andar. Mais uma fralda para mudar, mais uma cama para fazer - borrada, talvez. Mais alguém para obrigar a comer - oh, ups, se não comer, não comeu, azar. Mais um que todos desejaram que morresse no turno a seguir, para não lhes dar trabalho. E dói-me ainda mais, como se me reabrissem agora uma ferida que estava quase sarada, e lhe mexessem uma e outra vez até sangrar de novo. Dói mesmo.

Nem tudo tem sido fácil - torna-se inevitável recriar o cenário da morte dele a cada comentário que ouço, a cada atitude que vejo. E hoje estou particularmente atónita, zonza, a rezar para ter visto mal ou para que tenha sido um caso isolado; não sou ninguém, sou só uma aprendiz, mas não é preciso saber muito disto para entender a paciência e a sensibilidade - o carinho, por assim dizer - devia estar incluído na folha de terapêutica.

Ou, pelo menos, as pessoas deviam entender isso. 
E quer eu passe a vida como auxiliar ou como enfermeira, espero conseguir ser o tipo de pessoa que as famílias gostariam que estivessem do lado dos que lhe são mais queridos até ao fim - quero nunca fazer com que ninguém sinta o que eu estou a sentir hoje.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

oh snap

Fui buscar o resultado das análises ao laboratório, esperançosa. Quando as abri, fiquei fodida da vida pelo motivo mais improvável de todos - está tudo bem; nem um valor acima, nem um valor abaixo, dos referenciais.

E ainda não foi desta que descobri o que se anda a passar comigo.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

só para que saibam

Uma parte de mim está com desejos homicidas em relação ao cinderela - apetece-me um recomeço, apetece-me apagar capítulos da minha vida, apetece-me um blog que me acompanhe mais de perto sem a sombra de saber que este blog é mais movimentado do que uma casa de putas e que é demasiado conhecido por pessoas que me conhecem na realidade. Uma parte de mim até já arranjou um nome giro para o blog que ainda não criou.

A outra parte de mim não tem paciência para começar do zero outra vez, não está com vontade de esperar que o blog cresça e sabe que não tem, presentemente, metade da disponibilidade que tinha no início do cinderela e sem a qual o antro nunca poderia ter crescido. E essa mesma parte sabe que, bem lá no fundo, eu continuo a não me importar muito com o facto de saberem quem eu sou nem tão pouco faço questão de me privar de escrever seja o que for, ainda assim. Bem como sei que o cinderela continua a ser a minha casa por estas bandas.

Não garanto nada e sou instável o suficiente para mudar de ideias já a seguir - se tentarem entrar e não conseguirem, esperem. Eu nunca vou estar longe.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take6

No seguimento do post anterior, ainda tive uma senhora que me disse que estava muito feliz por estar no hospital, que estava a gostar muito e ainda não queria ir para casa. Nada de novo, portanto.

Começou foi a assustar-me ligeiramente quando a criatura disse que até gostou de ser operada porque a acordaram com festinhas na cara e ela achou muito divertido. Foi e veio ao bloco sempre a rir.

Seriously, mas agora as pessoas são anestesiadas com cocaína?

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take5

É sempre curioso ver como, enquanto alguns doentes estão mortinhos por ter alta, outros quase imploram aos médicos para que os deixem ficar mais uns dias porque ainda não estão preparados para enfrentar o dia a dia fora do conforto do hospital, onde tudo está à distância de uma campainha.

Mesmo assim, volta e meia ainda há alguém que consegue animar o circo e mostrar que há sempre mais alguma coisa quando se pensava que não podia piorar.
Desta feita, temos um jovem de 86 anos a chorar e a perguntar que mal fez ele aos médicos para eles o quererem mandar para casa.

Não se compreende, de facto - uma pessoa a tratá-los com tanto amor e carinho e os filhos da puta ainda dão altas. Irra!

sábado, 17 de outubro de 2015

sobre as verrugas deste mundo

Se há coisa que me dá vontade de rir são os mártires - os pobres coitados que, se preciso for, se vitimizam porque o vizinho que vive ao fundo da rua, e a quem cumprimentam com um aceno não mais do que duas vezes por mês, tem uma cárie. Gente que acha que está cheia de problemas quando, bem lá no fundo, o único problema é quererem pintar as unhas e não poderem porque as roem até ao sabugo e fica feio. Gente que, quando não tem nada de que se queixar, vai buscar uma história de 1829 ao baú. História essa que nem lhe dizia respeito.

Dá-me vontade de rir pelo ridículo, que dá. Mas também me dá vontade de correr meia dúzia à chapada, para ver se acordam e percebem que há um mundo além da mente limitada com que nasceram e que, de facto, há gente que não nasceu com a vidinha facilitada.

metaforicamente

As pessoas também deixam de nos servir, tal como aquela camisola favorita que parece fazer parte do nosso guarda roupa há demasiados anos para que tenhamos sequer coragem de a despromover.

Mas o mal não vem quando tentamos vestir a dita cuja e ela não serve - o mal está quando ela nos serve e continua bonita pela frente, e saímos de casa sem reparar que a puta tem um buraco enorme e irreparável nas costas. 

E ninguém precisa de camisolas rotas a ocupar espaço no armário, só por dizer que estão lá, que estiveram sempre lá. De vez em quando, é preciso enchermo-nos de coragem e assumir que já não faz sentido mantê-la.

coisas tristes deste mundo



A criatura ainda não entendeu a ideia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

ups.

Sempre odiei - ou achava que odiava - nomes foficoisos, pirosos, ranhosos, melosos e blá blá blá.
Depois eles passaram a fazer parte de uma mensagem de boa noite, deu-se-me assim uma crise qualquer, e vai que estou menos macho ao ponto de me derreter toda, todinha, com os nomes fofos que a criatura arranja para me chamar.

Sério - vocês ainda hão de ver o cinderela pintado de cor de rosa, com uma kitty como fundo e posts sobre sapatos de verniz e malas da michael kors na minha wish list. Ai o medo.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

about my guy

Há dias difíceis, que há. 
Há dias em que eu me pergunto o que raio tinha eu na cabeça quando não fugi disto a sete pés antes de me ter deixado envolver desta maneira, que há. 
Há dias em que eu duvido de tudo e o quero meter a andar, que há.

Mas depois também há dias, muitos dias, em que ele me se mostra tão presente que eu quase não sinto a distância, dias em que me surpreende de tal maneira que eu me pergunto como que raio é que é suposto habituar-me a viver sem ele a colorir a minha vida a preto e branco. E hoje foi um desses dias em que me surpreendeu, em que me derreteu, e em que eu não quero, de forma alguma, deixá-lo ir embora, que foi.

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take4

- a menina teve sempre essa voz? ou treinou-a para ser assim, doce? tem uma voz tão infantil... tem mesmo a doçura de uma criança. até pensei que tivesse treinado.
Como é que eu espero que as pessoas me levem a sério? Como é que eu ainda acho que um dia destes os monstrinhos de berço me vão dar ouvidos? Como?

Depois uma pessoa tenta ser má, que tenta, mas ninguém teme uma pita armada em general machão. Vidas tristes.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

quando satanás me troca as voltas mas quem acaba por ficar com mais uns trocos sou eu

Nunca achei piada a sapatilhas com caixa de ar - depois encontrei um site com umas air max lindas lindas, a um preço acessível, e fiquei louca.

Ora, tenho um coração grande o suficiente para até poder incluir dois tamanhos no meu pedido - 40 por ser, efetivamente, o meu, e 41 porque, assim como assim, no inverno tenho a mania de andar com dois pares de meias e no verão ando sempre com os pezunhos ao léu.

Escolhi dois modelos diferentes - num, só havia até ao 39. No outro, só havia a partir do 42.

Sou capaz de estar um bocado chateada.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

por onde andas, cinderela?

Eu tenho tentado, que tenho, voltar aqui - mas entre as 8h nonstop do hospital, as idas ao ginásio entre 3 a 4 vezes por semana, a minha tentativa frustrada de meter as leituras em dia e tudo o resto que há para fazer em casa, desde limpezas a arrumações frenéticas só porque me estou a transformar em alguém muito chato que já não sabe estar quieto, e todos os recados e o vai-aqui-e-ali diário, chego a casa e apetece-me aterrar durante duas semanas seguidas.

Mas eu tento, que tento. Preciso é de baterias novas.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

a minha saúde foi de férias com a minha beleza

Se há coisa que eu cá não sou é dessas que fazem exames e mais exames para depois verificarem que está tudo bem - nada disso, meus amigos. De cada vez que faço exames, faço questão de descobrir uma avaria nova para juntar à minha lista.

O meu problema é que estou a experimentar demasiados problemas em jovem e temo esgotá-los ao longo da minha longa vida (só para dizer que não aceito quinar antes dos 100, porque até já tenho o funeral combinado e vai haver música ao  vivo) e não restar mais nada para me atazanar o juízo em velha. Assim não dá, pá. Slow it down que eu ainda só vou nos 20.

vou ser uma velha ainda mais deprimente

A puta das ironias é ter as velhas a choramingar à minha frente porque têm isto, isto e aquilo (inserir lista interminável de problemas de saúde), enquanto eu fico cheia de raivinha dos dentes e a desejar poder só ter metade desses problemas quando chegasse à idade deles.

Mas não, minhas caras alforrecas, 20 anos estão bem longe de serem sinónimo de uma saúde de ferro. Pelo menos para mim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

ah e tal, o ecg não dói nada a fazer!

Eu juro que achei que ia sair de lá sem uma mama, mas tudo bem.

mais ou menos isto

Love isn't always pretty, Tate. Sometimes you spend all your time hoping it'll eventually be something different. Something better. Then, before you know it, you're back to square one, and you lost your heart somewhere along the way.
Colleen Hoover,
ugly love

domingo, 4 de outubro de 2015

peculiaridades

Don't even ask, mas faz-me uma confusão desgraçada ouvir dizer palavras como toiro, loiça, oiro, and so on - apesar de não estarem erradas, sou pelo u, sou pelo u em todo o lado, e só me soa bem se for touro, louça, ouro. Sabe deus porquê.

cinderela desfila o fat ass pelos corredores do hospital - take3

E qual poderia ser, possivelmente, o meu pior pesadelo?
Sou alérgica ao promanum.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

cinderela desfila o fat ass nos corredores do hospital - take2

Regra geral, as pessoas reagem bem ao facto de terem uma miúda a cuidar delas e acabam por achar piada à ideia - em contrapartida, há pessoas chatas que se convencem de que temos de fazer absolutamente tudo e encaram o hospital como um spa - e destas eu não consigo fazer nada.

Já não é a primeira vez que tenho de pedir ajuda porque não consigo fazer com que alguém - que podia perfeitamente levantar-se - se levante para que eu não tenha de fazer a força toda sozinha. E isto porquê? Eu tinha a vaga ideia de que deveria estar relacionado com o facto de ser nova e ter a «voz meiguinha» que eles tanto gostam de me gabar. Mas não fazia ideia de quem me achavam tão nova.

Hoje, uma senhora virou-se para mim e perguntou
 - tu tens quê, 14 anos?

Fiquei em choque, a hiperventilar e a chorar um bocadinho por dentro. A mulher deve ter reparado na minha confusão interior, e apressou-se a acrescentar  
 - se calhar nem tanto. tens mesmo cara de novinha!

Respirei funto e expliquei-lhe que não, que já ia nos 20.
Ainda em estado de choque, contei o sucedido a uma auxiliar, na presença de um rapazinho, também ele auxiliar, que já me conhece desde o primeiro estágio. Ao ouvir isto, a criatura apressa-se a dizer
 - eu também só percebi que tinhas mais de 18 anos porque te vi a conduzir!

...
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...
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Desisto.

cinderela desfila o fat ass nos corredores do hospital - take1

Não vos posso dizer que ser auxiliar de saúde seja uma profissão de sonho - não é. Não desempenhamos as funções mais importantes e interessantes do mundo, mas somos parte de um todo; mesmo que hierarquicamente sejamos o elo (ou um dos elos) mais fracos, o hospital não funcionaria sem este gang dos azuis, como decidi chamar-lhe aqui.

Já se sabe que tenho desejos de fuga, que estou ávida de fazer outra coisa da vida e que ando aqui cheia de sonhos e planos e tudo e tudo - mas, por agora, isto vai-me acalentado o espírito e controlando a ânsia. Se lido com merda diariamente? Lido. Se há gente chata, chatíssima? Há. Mas volta e meia aparece um par de olhos doces que precisa quase tanto de atenção e carinho quanto cuidados médicos - ou, por outras palavras, talvez estes se complementem, mas acabem por estar ao nosso encargo, os que andam no terreno mais tempo, os que estão lá para satisfazer as necessidades deles. E eu gosto disso - quem diria? Quis ser fria durante tanto tempo, tentei ser tão indomável, fiz de tudo para não sentir, mas hoje sou toda coração e tento ao máximo que isso se note.

Há dias difíceis - há! Há dias em que estou tão cansada que chego a casa e acho que vou adormecer sem sequer jantar. Mas já vi sorrisos de pessoas que nunca sorriem a mais ninguém. Já vi alguém só aceitar comida dada pela minha mão. Já ouvi dizerem-me que era a preferida e elogiarem-me por ostentar um sorriso de orelha a orelha como se fizesse parte da farda.

E, para mim, faz.