terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

quanto vale o dinheiro?

Quero começar por dizer que estou ciente de que, infelizmente, ter mais do que um emprego não é uma escolha para algumas pessoas, e que há quem faça por real necessidade. Também já me cruzei com pessoas assim, e guardo-lhes todo o respeito. Aos outros... seriously?

Acredito que isto não faça sentido a toda a gente mas, para vos situar, posso explicar algo sobre mim: quis ser enfermeira durante muitos anos, assim, sem quaisquer dúvidas ou hesitações. Depois, fui trabalhar para um hospital e, ao fim de pouco tempo a praticar horários de loucos que nem ao diabo lembram, percebi que essa não é a vida que quero para mim. Ah, sua cachopa fútil, folgada, preguiçosa, não sabes o que é a vida!, and so on. Bem sei que há quem o pense - já eu, estou muito contente por contrariar a mania portuguesíssima de me prestar à infelicidade só para poder choramingar pelos cantos.

Descobri que, afinal, eu quero uma família. Daquelas a sério, das que não são constituídas por vinte e sete gatos e um ser humano, do sexo feminino, gordo, com bigode e um ar duvidoso. Nada temam: a cinderela não tenciona arrendar o útero a um monstrinho de berço nos anos mais próximos. Mas, e ainda que isto seja uma novidade até para mim, um dia quero poder sentir orgulho nas minhas próprias crias, ainda que o maior feito delas seja comer ranho e riscar a parede. E quero estar lá para ver isso - a este ponto pode uma pessoa mudar, vejam lá.

Não me venham dizer que estou a ser parva, que o que não falta são enfermeiros com filhos, porque disso sei eu bem. Foi exatamente por ter trabalhado a par com eles que percebi, bastante depressa, que não quero estar naquele lugar. Que, por mais que goste da profissão, sou incapaz de me imaginar a procriar para ver as criaturinhas só às vezes, quando os horários lá casam uns com os outros.

Ainda bem que há gente cujas vidas funcionam perfeitamente nesses moldes, mas não o quero para mim.

Posto isto, e correndo o risco de ser apedrejada em praça pública, não consigo perceber os segundos e os terceiros empregos. Não consigo; por mais que me esforce, sou incapaz de entender como é que alguém pode pensar que matar-se a trabalhar só para os putos poderem ter o último grito em tecnologia ou o número de países visitados aos três anos ser superior à quantidade de dentes que têm na boca, é dar-lhes uma vida melhor. Se calhar sou só chata e tenho uma alma de pobre sem remédio, mas é-me inconcebível colocar o luxo à frente do amor, preferir dormir três horas para que os putos nunca tenham de comprar roupa no lidl (olhem só a boquita para mim mesma), em detrimento de passar tempo com eles. Nem que seja a fazer nada.

Na volta, sou mesmo eu quem está enganada, os valores estão todos no sítio, mas eu continuo a preferir a ideia de ter de aproveitar as promoções para comprar shampõ, se isso implicar ter a oportunidade de passar tempo a fazer coisas que gosto, com as pessoas de quem gosto. São manias.

2 comentários:

disse...

Estou contigo em tudo. Até nas compras no LIDL. eheheh
Já estou a sair do outono da vida e quase a entrar no inverno e, talvez por isso, não me consigo imaginar a viver de acordo com os padrões de uma certa sociedade que se diz moderna (ou está na moda), onde os valores se baseiam todos na quantidade de porcarias que podem comprar aos putos. Como o amor ainda não se vende (o que as putas vendem não é amor, é sexo eheheh), mais tarde vão aparecer as mazelas psicológicas e as necessidades que, apesar de tudo, têm a virtude de dar emprego aos psicólogos. xD

ernesto disse...

Não creio que isso se possa justificar com a idade porque, tendo praticamente idade para ser tua neta, penso de igual forma. Não entendo, mesmo. Sinto que tive uma infância muito mais feliz do que a dos miúdos têm atualmente, e com metade das tralhas. O único contacto que tinha com tecnologias era os desenhos animados da rtp2. E era feliz xD
Agora não. Vale tudo para dar uma vida melhor aos putos, ainda que "uma vida melhor" seja dar-lhes a oportunidade de terem tanto ou mais do que os outros. Não sei se, quando chegar a minha vez, vou conseguir contrariar isto... na volta, vou ser igual aos outros. Mas espero mesmo que não :\
Isto acabou por ficar muito virado para enfermeiros por terem sido quem me fez pensar nisto, mas é comum a muitos outros fatores. Vale tudo por dinheiro, pela felicidade irreal que se compra. Espero mesmo nunca me transformar nisto.