quinta-feira, 5 de setembro de 2013

que alguém me queira cinco minutos

Um dia, li num livro - esse livro, o do título - tudo o que eu sentia. Lá para o meio, a personagem principal dizia qualquer coisa sobre uma rapariga, qualquer rapariga dita normal, se sentia feia de vez em quando, mas sabia que era passageiro. Que, noutro dia, com outras roupas, com outro penteado, se voltaria a sentir bonita. Mas uma rapariga feia, não; dia após dia, saberia que continuava feia. Continuaria a sentir-se feia.

E eu já li isto há tanto tempo, que já não me lembro de nomes, nem sei se ainda conseguiria contar a história - mas lembro-me bem dessa parte. Lembro-me desse sentimento de compreensão que de vez em quando surge a meio de um livro, e nos faz sentir como se aquela fosse a história da nossa vida. E talvez até o livro tenha contribuído para me deitar mais abaixo ainda, ao descrever, palavra por palavra, o que eu sentia sobre mim. 

O que há com a autoestima baixa, é que pode sempre baixar mais. Uma palavra basta, porque toda a gente é mais bonita, toda a gente é mais interessante. E nós somos lixo, abaixo de lixo, e ninguém quer saber se estamos vivos ou mortos. E então chegamos a pensar fazer a experiência, quando surge a dúvida - alguém daria pela minha falta? - mesmo sabendo que isso encerraria qualquer hipótese de compreensão. Não restaria nada de nós, nem para sentir a alegria de ser relembrado, nem a eterna derrota de todos se terem esquecido. E não vale a pena. Nunca vale a pena. 

Então vamos vivendo em sombras, de sombras, como sombras. Com o que sobra do que houve, fazendo os impossíveis para nos esquecermos de quem somos de vez em quando, ignorando o pequeno demónio que nos habita e nos destrói lentamente, porque somos horríveis, porque somos invisíveis, porque somos menos do que nada. E então, com sorte, até nos conseguimos esquecer. E talvez nos consigamos sentir felizes, de vez em quando.

3 comentários:

Anaa disse...

Quando li isto aconteceu-me mais ou menos o que te aconteceu quando leste esse livro. Não porque me sinta particularmente feia ou porque sofra com um desgosto de amor, mas por outras razões. E embora os problemas sejam diferentes, a sensação é a mesma e por isso te digo sinceramente que lamento que tenhas que te sentir assim

Kyle Phillipe disse...

wow.

Marisa Maria disse...

Eu também tenho a auto-estima baixa. Tão baixa que por causa de tantos pormenores aglomerados na cabeça me levou a um início de depressão e sofrer de ansiedade, coisa que me levou a um psicologo, que por mais que não tenha simpatizado com o homem, fez-me ver que também é bom valorizarmo-nos de vez em quando, ou sempre se possivel. Já me senti muito feia, já me senti muito mal amada, e ainda sinto às vezes. Mas é preciso ter força para elevar a nossa auto-estima porque todos temos um brilho especial e temos que deixar esse brilho brilhar. :)