Acho que ele nunca chegou a perceber que eu estava a falar a sério e que gosto mesmo dele - o pior é que eu o deixei fazer o que queria. Deixei-o pôr em prática o plano de fingir que nada aconteceu e prosseguirmos com as nossas vidinhas como se tudo o que se passou tivesse sido um sonho qualquer ou o enredo para um filme.
Funcionou durante uns tempos. Funcionou porque eu estava tão feliz só por o ter de volta que já pouco me importava com o facto de não haver sequer maneira de comparar o que sentíamos um pelo outro. Estava bem mesmo sabendo que a admiração que sentia por ele não era recíproca e que lhe passava ao lado se os cinco minutos que eu passava com ele eram ou não os melhores cinco minutos do meu dia.
Agora já não funciona - acho que ele nunca percebeu mesmo. Ainda não reparou que, o que quer que ele faça, ou não faça, me afeta muito mais do que eu gostaria. Ainda não reparou que é relativamente fácil magoar-me, mesmo à distância, e que eu não fico indiferente às sucessivas desculpas e aos imprevistos que parecem acontecer sempre, absolutamente sempre, que eu tento voltar a vê-lo. E que me magoa o facto de ele parecer nunca se lembrar de mim. Mas ok, tudo bem - eu até podia viver com isto se não acontecesse sempre o mesmo. Se ele não me deixasse em pulgas só com a perspetiva de o ver para depois, mais uma vez, não aparecer.
Sempre se me aplicou aquela frase do principezinho, sobejamente conhecida, do se tu vens às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz - e isto explica tudo. Se é para não vir, mais vale não dizer nada. Mais vale nem me lembrar que existe. Na realidade, não sou eu quem se esquece.
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