domingo, 3 de janeiro de 2016

as coisas que eu vejo

Quando chumbei a matemática pela segunda vez, entrei em desespero. Tive uma daquelas crises de oh-meu-deus-eu-nunca-vou-conseguir, chorei um bocadinho, dramatizei um bocadão, mas depois dormi e acordei consciente de que essa era uma porta fechada - ou entreaberta, porque eu poderia sempre tentar de novo -, mas também era uma oportunidade de procurar outras formas. E foi o que fiz.

Entrei num curso numa das áreas pelas quais o meu coração bate - a saúde. Mas não importa, podia ter ido para outro qualquer, desde que o objetivo fosse cumprido, no final das contas: precisava de contornar o facto de ter falhado na matemática e, por isso mesmo, não ter o 12º ano. 

Talvez por isso, por me ter dado ao trabalho de procurar soluções, por me ter esforçado - e continuar a esforçar - para não deixar escapar esta oportunidade, sou incapaz de compreender as pessoas que não têm objetivos. Pessoas que se deixam falhar uma e outra vez e, mesmo assim, não se importam. Deixam-se andar. 

Não temos de ser todos médicos, enfermeiros, professores ou advogados. Também não é obrigatório termos a resposta na ponta da língua, de cada vez que nos perguntam o que queremos ser quando formos grandes, desde os três anos. Eu tenho vinte e ainda não sei - agora estou a uns meses de me tornar uma auxiliar de saúde, e depois logo se vê. Tenho um bocadinho do coração na enfermagem, e outro no jornalismo, e não há nada de errado em ainda não saber o que quero fazer a seguir numa altura em que ainda não posso fazer nada. Mas não entendo quem fica parado. Não entendo as pessoas para quem tanto faz, para quem nada importa. Gente cujo único objetivo de vida parece ser continuar a viver com os pais ou arranjar um namorado que as sustente, porque nunca se esforçam por nada.

Por mais que tente, não entendo estas criaturas que vivem nas sombras, que nunca acabam o que começam, que são capazes de passar meses a fio com o cu no sofá a ver o goucha e a cristina. Não entendo, nem quero entender.

5 comentários:

Annie disse...

Ao longo da minha vida devo ter mudado de opinião sobre o que queria ser uns bons milhões de vezes . Já quis ser cantora , dançarina , depois tive a fase que queria ser princesa , a fase que dizia que queria ser médica só porque toda a criançada da minha idade dizia isso , já quis ser psicóloga , psiquiatra , neurologista ... E quando chegou o fim do 12º quis ser tanta coisa que já perdi a conta . No fim , escolhi enfermagem porque queria saúde para puder ajudar os outros . Agora penso que não fazia ideia do que enfermagem era antes de entrar e espero ser capaz de a exercer . Mas o que eu acho disto tudo da escolha dos cursos e etc é que resumindo e baralhando , nunca se sabe e é rara a pessoa que tem uma ideia fixa do que quer , porque nós , humanos como somos temos sempre receios . Eu no fim do dia só quero ser eu , não quero ser mais nada .

ernesto disse...

Tu e toda a gente, claro!
Eu também mudei de ideias muitas vezes ao longo da minha vida. E ainda continuo a mudar. Sei lá o que é que vou fazer quando acabar este curso! Se calhar até acabo por perceber que não quero um curso superior.

Mas eu não escrevi isto a pensar em pessoas indecisas em relação aos cursos. Foi a pensar num caso específico. Uma miúda já tentou tirar três cursos secundários e desistiu de todos, por puro desinteresse. No entanto, nunca trabalhou na vida, apesar de já estar perto dos 25. E também não vai trabalhar tão cedo, porque está grávida.
São estas mentalidades que eu não entendo. Não compeendo o que é que esperam da vida assim.

Annie disse...

Sim , eu percebi que não tinhas escrito isto para os indecisos , mas para os que estão parados xD . Essa rapariga parou quando não devia parar e agora que está grávida não vai deixar de estar parada tão cedo ( em termos profissionais claro , que a criança lá trabalho vai-lhe dar xD ).
E sim , também não percebo as pessoas que estão paradas , em casa "a ver o goucha e a cristina" a ser sustentadas por um outro . Parece que não têm perspectivas de futuro , que aquilo é o máximo que querem atingir na vida . Se desistem de uma coisa , partam para outra ! Se não conseguem decidir entre uma opção ou outra , comecem por uma das opções ou outra diferente . O importante é fazer alguma coisa , é agir , é mexer ! Parar é para quando morreres.

Anónimo disse...

Às vezes são as que têm mais sorte. Arranjam um otário que as queira ter em casa de pernas abertas para quando tiverem vontade de esvaziar os colhões e quando aquele se fartar, o que mais há é otários. Pouco mais são do que putas por conta, mas sentem-se realizadas na mesma.
Cada um é pró que nasce... ou, como diz um amigo meu, "cada um é pró conaço. eheheh

Maria Amêndoa disse...

Super compreensível. Eu fui a melhor aluna do meu liceu, no ano em que concluí o 12º e ao não entrar no curso que queria fiquei presa precisamente por esse problema: a falta de objectivos. Andei a marinar sem saber bem que curso é que queria, mudei de cursos muitas vezes (Vezes demais, é ridículo, nunca ninguém esteve matriculado em tanto curso superior diferente) mas foi a minha maneira de tentar encontrar o meu sítio. Ficar em casa sem fazer nada é que não era opção, porque eu sabia que queria muito estudar, não sabia era o quê, e assim mudando de curso pelo menos ganhei experiência e lá encontrei aquilo que realmente queria numa engenharia nada a haver com o que eu tinha pensado para o meu futuro no 12º ano.

Vai tudo correr bem contigo de certeza também, custe muito ou pouco, as coisas acabam sempre por encaixar :P