sábado, 27 de fevereiro de 2016

.

É difícil lidar com um não mas, para mim, não há nada que seja mais difícil do que interpretar a ausência total de uma resposta. Quando não há nem sim, nem não. Quando só resta o silêncio.

Não consigo ir tranquilamente à minha vidinha quando tenho dúvidas, quando há um milhão de coisas a torturar-me que eu não sei; não sei lidar com as pontas soltas, com o nó no peito de não conseguir entender nada do que se passa. As dúvidas dão lugar aos monstros que vivem na cabeça de cada um; dão-nos aso para imaginarmos o que quisermos e para administrarmos a nós próprios a dor que vamos sentir. Seja ou não essa a verdade. Valha ou não a pena.

O pior que me podem fazer é deixarem-me neste impasse, é darem-me tempo para ficar aqui a pensar no que raio terei feito de errado ou no porquê de ser sempre assim. O pior que me podem fazer é deixarem-me semanas e semanas à espera de que alguém retribua a minha sinceridade bruta e seja capaz de me dizer ou sim ou sopas.

Por mais deprimente que a imagem seja, eu já não sei o que é adormecer sem estar a chorar; as poucas horas que durmo são interrompidas em sobressalto, ora com sonhos ridículos ora com mais um par de horas a deprimir. Reprimo todos os pensamentos negativos durante o dia, quando estou acompanhada mas, sempre que estou sozinha, não lhes consigo escapar. 

A pessoa chora enquanto conduz, a pessoa chora no banho, a pessoa chora durante a noite, a pessoa chora quando fica cinco minutos sozinha. Durante meses, deixei que o problema dele me afetasse como só nos afetam os problemas de quem gostamos. Deixei-me sofrer, de mansinho, pela incerteza de uma recuperação, pelo medo, pela ânsia. Deixei que se juntasse a todos os meus problemas o desespero e as lágrimas de uma cirurgia de 6 horas que talvez não tenha resultados esperados, mais semanas e semanas a tentar manter a paciência por ele não dizer nada porque sabia que ele não estava em condições, mais o mesmo medo que ele tinha: quero o melhor para ele, porra. Custa-me muito pensar que ele pode não recuperar. Deixei-me sofrer, tal como qualquer portuguesa portuguesíssima, porque é assim que somos: entrega-se o coração de bandeja e vê-se no que dá.

Meses depois, está tudo igual menos ele, está tudo igual menos nós. Meses depois sinto que fui descartada por não servir, nem de apoio. Meses depois restam-me as dúvidas, resta-me o medo, resta-me ânsia, as lágrimas e as noites sem dormir: mas falta-me o beijinho, falta-me o ticas, falta-me o eu gosto muito de ti. Falta-me o pouco que ainda me trazia à tona depois de tanto tempo a ser puxada para o fundo; restam-me os dias iguais, sem sabor, e a dor crescente pela incerteza do que se passa. Por não saber de nada, por não saber o que fiz de tão errado. Por não conseguir compreender o porquê disto, o porquê de se ter esquecido de que continuo aqui, o porquê de me estar a magoar desta forma - quando sabe que isto é, de longe, o pior que ele me poderia ter feito e que nada me doeria mais.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ai senhores, como isso vai!!
Já pensaste procurar ajuda?? Tens de te libertar disso para VIVERES!!!
Força aí!!

Anónimo disse...

A verdade é como um tiro certeiro: mata de uma vez.
A incerteza é a morte lenta e dolorosa. É ser cozinhado vivo, em fogo lento...

Agridoce disse...

Recentemente, também me deparei com esse drama: verdade/certeza ou dúvida/incerteza? Durante algum tempo, achei que preferia a verdade e as certezas. Hoje, fechei definitivamente essa porta na minha vida e não cheguei a saber a verdade.

Porque não importa assim tanto, porque não muda nada. Porque temos mesmo é de seguir em frente com a nossa vida, independentemente do que fica para trás.

Força e um abraço!