domingo, 21 de fevereiro de 2016

sobre as pessoas que nos morrem em vida

A vida das pessoas acaba assim, e matilde nem sequer tem consciência de que morreu uma das suas mortes. De cada vez que deixamos de ser percebidos, morremos. Quando somos enterrados deixamos de ser percebidos por toda a gente, mas quando os outros já não olham para nós, ficaram condenados para um número limitado de pessoas, a uma morte em tudo idêntica à outra. A nossa morte não acontece quando somos enterrados, acontece continuamente: os dentes caem, os joelhos solidificam, a pele engelha-se, os amigos partem. Tudo isso é a morte. O momento final é apenas isso, um momento.

Afonso Cruz,
jesus cristo bebia cerveja

2 comentários:

Anónimo disse...

No fim isto não diz mais do que aquela minha teoria parva de que começamos a morrer no dia em que nascemos.
Mas por vezes custa mais quando nos morre alguém em vida, do que se tivesse deixado de ser percebida por toda a gente. É que custa a perceber...

Agridoce disse...

Estou cansada de mortes à minha volta... E fiquei curiosa com esse livro!