Pode ser certo que chorar sobre o leite derramado não seja completamente inútil, mas já se vai fazendo tarde para eu continuar a escrever sobre ti. Está na hora de arrumar as malas, rasgar as cartas e bater com a porta sem olhar para trás. Esta é só uma maneira de alimentar o que me resta de ti - e, enquanto isso, essa tua existência ténue vai-me consumindo a mim. É por isso que esta é a última vez que te escrevo.
Não vou deixar de sentir a tua falta, para já. Costumo lembrar-me de ti pelas razões mais insignificantes, por autênticas banalidades que, por alguma razão, te queria poder contar, e acabo por dar por mim de lágrimas nos olhos outra vez. Sei que isto é o desespero de saber que não te voltarei a ver a falar mais alto, ou então é a minha falta de assuntos interessantes para falar a revelar-se. Quando sabes que não poderás voltar a falar com alguém de quem gostas, até a perspetiva de lhe perguntares as horas parece suficiente para te fazer feliz.
Às vezes, tenho medo do que possas pensar de mim agora. Não que mude alguma coisa, ou que eu tivesse poder sobre isso, mas essa dúvida tortura-me. Não queria que ficasses com uma ideia errada, ou que te repugnasse a ideia de, entre tanta gente por quem te podias interessar, ter sido eu a apaixonar-me por ti. E é por isto que sinto tanta necessidade de te pedir desculpa - se eu pudesse não gostar de ti, juro que não gostava. E, é certo, também podia muito bem ter ficado calada, mas a ideia de desapareceres da minha vida como se nunca por cá tivesses passado, tomou conta de mim. Não consegui lidar com a ideia de esconder tudo outra vez. Nunca fiz mal a ninguém, para ter de negar o que sinto, quando o sinta. Embora agora reine o sentimento de culpa - desculpa-me outra vez, por te ter importunado.
Claro que isto passa. Mais tarde ou mais cedo, acabas por ser só alguém que um dia conheci, e que teve o azar de se tornar importante para mim sem o querer. E talvez até ainda o sejas. De maneira diferente, mas talvez mantenha esse carinho todo, mesmo que me cruze contigo mil vezes, e faça de conta que não te vi. Não ousaria voltar a cruzar a tua vida outra vez, não tentaria nunca essa aproximação impossível, por mais que a quisesse mais do que tudo. Quando disse que gostava de ti, estava a falar a sério. Aliás, como em tudo o resto que por aqui escrevi; não podia ser mais sincera do que isto. Tudo o que se podia dizer, está dito, e o que fica por contar, também não importa. Não precisas de te preocupar comigo - não terás de voltar a ouvir o meu nome.
Desta vez, não te peço que me perdoes por ter tentado entrar na tua vida, arrombando a porta da frente. Nem tão pouco direi que deixei as chaves da minha debaixo do tapete - continuam e continuarão lá, mas não lhes darás uso, e por isso não faz mal que seja um segredo meu. Só quero que saibas, que há pessoas que é mesmo um prazer conhecer, e tu és uma delas. És mesmo. E, ao contrário do que possas pensar, não guardo o mínimo ressentimento, e espero mesmo que sejas muito feliz. Eu não saberia fazê-lo, e reconheço isso. Não há nada a fazer, e um dia eu também acabo por me acostumar com essa ideia. Deixa-me pedir-te desculpa por tudo, mais uma vez - pela última vez. Por mais que eu goste de ti, isto não pode continuar. E já que é assim que me despeço de ti, depois de tudo o que fiz errado, deixa-me acabar com as palavras certas. É a última vez que o digo; eu gosto de ti.
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