Creio que, neste momento, a única forma de alguém ainda não ter ouvido falar acerca do escândalo dos putos é viver numa gruta, sem quaisquer amostras de vida humana num raio de vinte quilómetros. É uma praga. Está em todo o lado.
Tinha de escrever sobre isto porque me está a fazer uma comichão tremenda ver uma das minhas cidades a ser reduzida a meia dúzia de psicopatas que ainda arrotam ao leite da mãe: em primeiro lugar, posso garantir-vos que o problema não está na figueira da foz e que não há nenhuma salmonela na água do mar que provoque a desintegração do cérebro. Aquilo deve ter sido acidente ou deficiência de nascença, mas nada tem a ver com o resto da população residente e era bom que metessem na cabeça que não somos vândalos. Não é assim tão provável que acabem a esvair-se em sangue, num beco escuro, com um rim ao pendurão. Pelo menos, não é mais provável do que em qualquer outro lugar.
Em segundo lugar, também ia ser querido pararem de culpar os pais - os pais educam, está certo. Mas também não sei se isto foi percetível no vídeo que já nenhuma daquelas criaturas andava ainda com o cordão umbilical ao pendurão - os pais não controlam as crias durante vinte e quatro horas por dia. Especialmente porque vivemos uma época em que as pessoas deixaram de trabalhar para viver e passaram a viver para trabalhar - entre o, ou os, empregos que serve, entre outras coisas, para garantir que nada falta às cachopas e aquelas poucas horas imprescindíveis de sono, não sobra espaço para controlar cada peido das filhas. Não me fodam - não dá mesmo.
E a culpa não é dos pais. A culpa é da sociedade em geral que tanto condena o bullying quanto promove o mau comportamento - ora porque são hiperativos, ora porque estão traumatizados com a separação dos pais, ora porque a mãe não os amamentou. Tudo serve para justificar atos violentos e, no final das contas, ainda são vítimas por terem ficado expostas e nem conseguirem sair à rua sem a polícia atrás, para garantir que não acabam a usar placa antes de atingirem a maioridade.
É de lamentar - perdoem-me a generalização mas, verdade seja dita, eu sou pouco mais velha do que eles e isto é o mundo como eu o conheço: os putos são, cada vez mais, esponjas. Pegou a moda do young, wild and free, do yolo, do carpe diem, eu sei lá - as modas pegam mesmo e todos se acham muito originais e com a personalidade mais alternativa da zona, mas são cópias uns dos outros. Influenciáveis que mete nojo - e o pior é que mais facilmente se convence um miúdo - ou miúda - a espancar outro do que se convence, o mesmo miúdo, a frequentar museus, a ler kafka ou murakami, porque ler é uma seca e a cultura é para bétinhos - o que é bom é ser mau, colecionar expulsões de todas as escolas da região, e ainda se rirem quando forem presos.
Mas, como sempre e porque somos portuguesíssimos, o mais provável é que não aconteça nada e o miúdo, quando o apanharem a jeito, ainda há de apanhar mais. É este o país em que vivemos.
Sem comentários:
Enviar um comentário