Há um erro comum a todas as mulheres: quando encontramos um bom tipo que esteja sozinho, convencemo-nos de que o universo está a conspirar a nosso favor e que este não poderia ser um sinal mais evidente de que, seja qual for o estrago que o impediu de resultar com qualquer outra, nós iríamos conseguir consertá-lo. E eu não sou diferente delas. Eu sou uma delas.
Quero que saibas que não me arrependo de nada - talvez diga que sim, no auge de uma discussão, embalada pelas mágoas que acumulei, mas é mentira. De forma alguma me poderia arrepender por ter conhecido alguém tão extraordinário quanto tu. Mas há alturas em que sei que a minha vida seria infinitamente mais fácil.
Tenho tido saudades tuas todos os dias - tuas, não: nossas. Tenho tido saudades do que fomos, da cumplicidade que criámos, do tempo sem horas que tínhamos um para o outro. De repente, tudo isso mudou. De repente, o que restou deixou de me chegar para aconchegar o coração e me fazer dormir melhor: tenho mesmo saudades tuas, daquilo que eras no início, de sentir que tinhas realmente medo de me perder e me fazias ficar. Agora, fico porque aqui é mais quentinho. Porque me sabe melhor ter pouco do que nada.
Se fosse uma escolha minha, eu ter-te-ia escolhido a ti na mesma, apesar das dificuldades. Teria escolhido o teu sorriso tolo, teria escolhido o teu sotaque que me derrete, teria escolhido a forma como me acalmas, teria escolhido os miminhos extra nesses dias em que estou mesmo triste, teria escolhido esse carinho todo com que falas da tua avó e que ainda me fez gostar mais de ti e teria escolhido essas tuas paixões que me deixam a desejar, no fundo, poder ser uma delas. Teria escolhido ser para sempre a tua ticas, num para sempre inventado por nós que poderia perfeitamente não durar mais do que cinco minutos. Mas ser. Tentar. Para sempre.
Tentei acreditar que podia resultar. Aliás, fizeste-me acreditar nisso para que eu não fugisse quando percebi que as coisas tinham ido longe demais - mas há diferenças abismais no querer, julgo. Eu quero mais, tal como te disse que acontecia sempre. Eu liguei-me mais, eu gosto mais, eu tento mais. E tu deixaste-me aqui, a querer sozinha, e a acenar aos meus pedidos. A pedir desculpa e a repetir o erro. A circundar perguntas. A fugir às respostas. E eu fui ficando, à espera.
Se eu pudesse, roubava quilómetros e partia os relógios até que o tempo e a distância deixassem de ser um problema; mas são-no e sê-lo-ão sempre enquanto eu for a única a estar disposta a contorná-los. Infelizmente são mesmo precisos dois para dançar o tango e há algum tempo que eu danço sozinha.
É por isto que eu estou de partida. Talvez não seja hoje nem amanhã, mas estou e sei disso. Tenho as malas arrumadas e a angústia no peito; estou só à esperaa da coragem para me despedir e fechar-te a porta de vez. Não é por mal: eu continuaria mesmo a escolher-te a ti, apesar de ser difícil, apesar de tudo, apesar de saber que hei de olhar milhares de vezes para trás, à espera de que me prendas, à espera de que não me deixes ir, à espera de que faças com que valha a pena eu ficar. Mas tu não me escolherias a mim e isso está-me cada vez mais claro - e é por isso que eu tenho de ir embora de ti o quanto antes. Por mais que doa.
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