Estou sozinha; tentei explicá-lo um milhão de vezes. Estou sozinha porque sempre foi assim - uns, fogem da minha vida, outros são expulsos e os outros, por mais que eu goste, não me preenchem as medidas neste momento. Tentei explicar um milhão de vezes que não estou bem - e não estou mesmo. Estou esgotada, estou vazia - obrigo-me a escrever para não perder o cinderela e porque isso sempre foi o que mais gostei de fazer, mas já nem isso me acalma como antes. Estou triste, desapontada e sozinha; se fui eu que semeei isso? Fui. Se sou eu quem insiste em afastar-se de toda a gente? Sou. Não o faço por mal - não me apetece ninguém, não me apetece estar com alguém a quem eu não possa dizer realmente o que se passa. Não me apetece estar com ninguém com quem eu não possa ser exatamente aquilo que sou e dizer exatamente aquilo que sinto. Ou divertir-me, como já não acontece há séculos, para me lembrar de que ainda há dias bons. Só que me apercebi demasiado tarde que essa pessoa já não existia. Ou, pelo menos, já não estava lá para mim. E ainda me julga egoísta.
Nunca são as pessoas de quem não gostamos que nos desiludem - e esta é uma premissa óbvia; não esperamos nada delas. Pelo contrário, aquelas por quem meteríamos as mãos no fogo, volta e meia deixam-nos mesmo a arder. Chega a uma altura em que passam a vida a fazê-lo, e esse é o início do fim.
É o que se passa comigo neste momento. E, se por um lado me custa imenso sentir que estou a perder, grão a grão, alguém que era mesmo muito importante para mim, por outro lado já desisti de impedir que isso aconteça. É a tal diferença entre virar a ampulheta ao contrário ou agitá-la para que a areia caia ainda mais depressa. Não a agito; deixo-a esgotar-se.
E quando se aperceberem de que o último grão caiu, será tarde demais.
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