segunda-feira, 16 de novembro de 2015

sobre os dias sem sabor

Hoje vesti o meu casaco grande, aquele que deve ser uns quatro tamanhos acima, e passeei por aí, de mãos enterradas nos bolsos e com o som das folhas a estalarem por baixo das minhas botas a cada passo - sorri. Pela primeira vez em muito tempo, senti-me em casa na cidade que sempre foi a minha.

Estou cansada dos dias mornos; sempre precisei do caos para me sentir viva, sempre precisei de sentir alguma coisa. Ultimamente, não estou feliz nem triste - sinto-me vazia e essa é a pior sensação de sempre. Queria que tudo fosse diferente. Queria que fôssemos diferentes.

Se há dias em que a distância me dói, hoje é um deles - estou cansada da incerteza, da dúvida, da sensação de que estou em contra-relógio e o meu tempo se pode esgotar a qualquer instante. Baralhas-me, confundes-me, entorpeces-me os sentidos; queria ouvir-te dizer que tens um plano para nós, que entendeste as indiretas, que descobriste que não somos inconcretizáveis como teimas em rotular-nos. Esperava que tivesse sido óbvio neste tempo que estou aqui de corpo e alma por ti, apesar de nem sempre estar certa de que o mereces. Queria que entendesses que as coisas difíceis sempre foram as que me sabem melhor e que tu não és exceção; queria que te decidisses, que me decidisses, que me escolhesses, pelo menos uma vez na vida. Que me mandasses embora ou que me prendesses para sempre.

Hoje vesti o meu casaco grande e perdi-me dentro dele - queria que me encontrasses, meu amor, que me devolvesses à realidade, a uma realidade onde os dias sem sabor não me estivessem a consumir por dentro e onde eu pudesse voltar a sorrir com vontade. Mas, mais uma vez, só restei eu. 

E as folhas secas, desfeitas em mil bocados.

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