[há dias em que gostava de poder voltar atrás, de regredir, se quiserem, mas de voltar a esse tempo em que era mais feliz. há dias em que me apetece voltar a ser pequena, esquecer os saltos altos e o eyeliner preto e sentar-me outra vez na cadeira do médico a balançar as pernas, ainda demasiado curtas para chegar ao chão. há dias em que me apetece voltar a ser essa menina, encostar a cabeça ao ombro da minha mãe e esperar, sempre atenta, sempre curiosa, sempre a questionar o mundo ao meu redor - queria crescer nessa altura. queria ser grande e ir aos sítios sozinha, saber ser sozinha, poder ser sozinha. hoje posso pegar no carro e ir a qualquer lado mas, na maior parte do tempo, não me apetece ir a lado nenhum - apetece-me um abraço quente e um beijo na testa. talvez dois - talvez não na testa. apetece-me o amor puro, esse em que eu jurava a pés juntos não acreditar ainda há uns três ou quatro anos atrás, e hoje ainda não sei se acredito mas percebi que não há definição nem fé que o faça desabar sobre a minha cabeça. é esperar - ou não esperar, deixar estar, as coisas inesperadas também sabem bem. há dias em que me apetece esquecer-me de que cresci mas que mantive intacta a intensidade com que sinto tudo, sempre sem meios termos, sempre sem filtros. há dias em que gostava de voltar aos dias em que a gravidade me era sempre alheia e eu não ia para a cama a temer o dia seguinte por não saber muito bem o que esperar - e acabar por me aperceber de que estou a sofrer pelos dois.]
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