sexta-feira, 3 de junho de 2016

possivelmente a coisa mais triste que já tive de escrever

Be careful with what you wish for, já dizia o outro. E eu senti-o na pele de uma forma muito cruel, numa dessas vezes em que a puta da vida me levou ao tapete.

Há meses que andava ansiosa pela fugidinha ali ao país onde abandonei o meu coração há uns anos. Meses. Ia estar com uma parte da família que amo mesmo, num país pelo qual sou apaixonada. Ia vê-la: aquela que sempre foi a minha terceira avó, a alguém que aprendi a amar antes de saber falar. Alguém a quem o cancro se lembrou de atacar, e fazer-me andar com o coração apertadinho durante meses, semanas. Dias.

Fiz a contagem decrescente. A minha ansiedade era tanta que eu não conseguia evitar escrever sobre isso; nos dias maus, chorava com medo de não a voltar a ver. Nos dias bons, fazia planos. E, quando chegou ao dia da viagem, eu estava feliz: ela tinha aguentado. Eu ia vê-la; a minha tia, a minha terceira avó. Uma das minhas pessoas preferidas.

Parece um final feliz, não?
Mas a vida não gosta de me oferecer dessas coisas; o dia que eu ansiei durante tanto tempo, para o qual andava a contar as horas e os minutos, acabou por se revelar num dos dias mais tristes da minha existência.

Depois de tanto tempo, foi por um triz.
O cabrão do cancro levou a melhor e ela morreu pouco antes de eu sair de casa, para a dita fugidinha até frança, para o dito dia que eu tanto queria. A vida, a puta da vida, pregou-me mais uma rasteira e não me deixou despedir dela por uma unha negra.

Explicar-vos o que sinto é como tentar explicar o sabor da água; a dor da perda associada à frustração do quase ainda não me deixam passar um dia sem sentir as lágrimas a picar-me nos olhos e sem dar por mim a amaldiçoar a sorte que não tenho. Mas, como alguém me disse: ela está viva no teu coração. E estará sempre - enquanto eu viver, ela será eterna também.

7 comentários:

Anónimo disse...

Não é a mesma coisa... se fosse não estavas tão triste. :(

ernesto disse...

Não, não é. Esta é uma das mentiras em que tento acreditar para amenizar a dor.
Tudo passa, não é? Não há outra forma de viver senão seguindo em frente :)

Joana Sousa disse...

Caralho. Abraço <3 e o tempo ameniza tudo. Seguir em frente, é mesmo isso.

ernesto disse...

Obrigada, joana :)

Anónimo disse...

Já acreditei mais nessa conversa do "tudo passa". Acho que há coisas que nunca passam. Ficam no fundo da pilha de problemas que surgem posteriormente, mas é sempre uma ferida aberta que, ao menor contacto, dói que se farta.
O meu pai morreu há 50 anos. Foi um estupor que estoirou tudo o que tinha herdado, na taberna e em negócios de bêbedos, mas todos os Natais (morreu na véspera de Natal) há como que uma nuvem que se vem prostrar por cima da minha vida, que torna tudo cinzento.
A morte é sempre injusta, mas mais injusta se torna quando se morre com tanto ainda para dar...

Agridoce disse...

A vida é mesmo puta... E podia escrever aqui mil clichés, mas nenhum ia amenizar essa dor, que é tão tua e tão legítima!... Caramba, que pontaria do caraças!...

Força. Muita força. E um grande abraço!

ernesto disse...

homem do leme, nós nunca queremos perder um dos nossos, sejam novos, velhos, bons ou maus. No caso dela, era mesmo boa pessoa, uma pessoa que eu adorava de coração mesmo. «Tudo passa» é o que dizemos aos outros para não dar parte fraca, mas não passa. O tempo há de amenizar, mas não passa.

agridoce, sim, uma infeliz pontaria mesmo. É muito injusta a puta da vida :\
Obrigada, mesmo!