Antes de mais - não, este não é um desses posts de fim de ano que servem, essencialmente, para as pessoas fazerem um review e decidirem o que vão recolocar, pela vigésima vez, na lista de coisas que querem fazer no ano seguinte. Ainda é cedo para isso e, de qualquer forma, ainda não cheguei a esse ponto da minha vida.
A pergunta surgiu há umas semanas e foi feita a cada uma das pessoas do meu curso - dei uma resposta vaga, mas a verdade é que me fez pensar porque, à primeira vista, não consegui encontrar mudanças concretas neste último ano. Mas elas existiram.
Não foi o melhor ano da minha vida, mas também não foi o pior - foi instável na maior parte do tempo, deixou e continua a deixar-me à nora volta e meia e não sei muito bem como gerir tudo o que me tem acontecido, tudo o que sinto. Tenho sido posta à prova de cinco em cinco minutos, por todos os lados.
E mudei, sim - como poderia não ter mudado? A passagem dos meninos da escolinha para o mundo dos adultos foi um balde de água fria que não poderia ter tido outro efeito senão mudar-me quando vi que isto é mais um salve-se quem puder do que um somos todos amigos e vamos ajudar-nos uns aos outros. E, entenda-se, há muitos anos que deixei de esperar muito das pessoas, mas nem isso me impediu de me desapontar. Passei toda a minha vida escolar a queixar-me delas mas, agora que saí da redoma onde estive 13 anos, percebi que, salvo raras exceções, aqui fora as melhores pessoas são as piores que encontrávamos na escola e não dá para confiar em ninguém.
Num ano consegui passar de explosiva a retraída e voltar a explosiva outra vez - demorei a ambientar-me à nova realidade, demorei a perceber que, se vou fazer parte desta selva, os outros têm de me ouvir tanto quanto eu os ouço a eles.
Num ano fiz coisas que julguei que nunca faria, e não me orgulho de algumas delas. Tornei-me mais solitária também - habituei-me a tardes inteiras sozinha à beira mar, e percebi que isso me fazia incrivelmente bem. Também olhei para o lado e percebi que me estava a afastar, cada vez mais, daquilo que fui um dia e, consequentemente, das pessoas com quem me identificava.
Ganhei pessoas e perdi pessoas como se, no fundo, eu não passasse de uma estação de comboios onde as pessoas só estão de passagem. Podia sentir-me como um monumento, mas não - isso só me fez sentir como uma estação velha e podre, com um ar tão duvidoso que as pessoas a evitam o mais que podem. Mas também perdi pessoas que não estavam só de passagem e essas são as que me pesam mais, mais pela desilusão do que pela perda. Mais pela sensação de que nunca mais seria capaz de perdoar do que pela falta que me fazem todos os dias.
Num ano, deixei de ter medo de dizer o que sinto; depois de uma vida inteira a escondê-lo e a fazer os possíveis para que ninguém se apercebesse, aprendi a dizer gosto muito de ti e adoro-te tantas vezes quantas me apeteça - porque eu mereço poder dizê-lo, apesar de ter achado que não durante todo este tempo, e ele merece ouvi-lo. Ainda assim, um ano não me chegou para perder as inseguranças com vinte anos de raízes, nem estou perto disso - sou chata, desconfiada, dramática. Faço das coisas mais simples um bicho de sete cabeças e continuo realmente dificil de lidar.
Talvez precise de mais um ano para melhorar isto.
Ou de mais oitenta, talvez.