terça-feira, 7 de junho de 2016

r,

Hoje queria falar contigo. Queria voltar atrás na minha palavra, confessar-te que só te pedi para nos afastarmos para que não me deixasses ir. Para que me fizesses sentir especial, importante. Para pertencer a algum lugar. Consegues imaginar um cenário mais deprimente?

Hoje queria falar contigo porque é o mesmo que eu quero todos os dias: sinto-me um país em guerra, constantemente a ser bombardeado, sem pausas, sem descansos. Sem uma paragem para respirar: três meses e três idas ao tapete seguidas, sem contar com todas as vezes que tens sido tu a atirar-me para lá. E, mesmo assim, queria que fosses tu a ir-me buscar. Queria que me amparasses num momento em que me sinto a cair de joelhos no chão - e enquanto temo que o chão não esteja lá e que eu caia infinitamente. Queria que me desses a mão: não foi isso que te pedi este tempo todo?

Hoje não me apetece chorar sozinha outra vez. Apetecia-me dizer-te porquê, apetecia-me explicar-te porque é que nunca me senti tão vazia: queria explicar-te que a minha vida está do avesso, que nada bate certo e que eu me sinto a sufocar. Que as lágrimas que me assaltam diariamente não estão a conseguir extravazar todo o sofrimento e que precisava, mais do que nunca, de um colo onde pudesse gritar até não me restarem forças. Queria que fosse o teu, queria que não me tivesses desiludido.

Gostava que tivesses entendido a tempo que o meu apelo à sinceridade bruta é verdadeiro. Que percebesses que é mais fácil de lidar com uma verdade difícil do que com uma dúvida constante. Queria que entendesses que os últimos meses têm sido os piores que já vivi e que precisava de ti do meu lado, tal como eu tentei estar sempre. Queria que não tivesses sido mais um a fazer-me duvidar de mim mesma.

Eu sei que não te lembras: falta menos de um mês para o meu aniversário e já me dói imaginar esse dia. Já me dói imaginar por conhecer de cor a sensação de vazio, de inutilidade, de ser tão imprestável no mundo que não vou ter com quem comemorá-lo. Queria que soubesses como isso me dói e que entendesses o porquê de eu precisar tanto da verdade; que me ouvisses, que entendesses metade do que já passei, quantas pessoas já me magoaram. Foi gente igual a ti que me transformou exatamente naquilo que odeias em mim: sou insegura, sou desconfiada. Doentia, talvez - não sei lidar com mentiras porque nunca soube ser de outra forma senão transparente. Nunca soube não me mostrar por completo a quem confio e, talvez por isso, nunca soube esperar menos dos outros do que a reciprocidade da minha transparência.

Queria que reparasses no quanto me esforcei sempre por ser o melhor que podia para ti - não tanto para retribuires o esforço, mas para entenderes que fui sempre o melhor que conseguia contigo, ou com qualquer outra pessoa a quem chamei amigo, e que é por isso que não entendo a necessidade de me mentires, tal como tantas outras pessoas antes. A necessidade de inventares desculpas quando, no fundo, é tão simples quanto assumires que não queres falar comigo. E a verdade. Nunca te exigi mais do que isso.

Hoje queria falar contigo porque estou a sofrer há demasiado tempo. Porque vivi sempre com a sombra de saber que não era normal e, nos últimos meses, essa sombra se transformou numa penumbra de que não consigo escapar: ganhei traumas, ganhei medos, perdi pessoas - umas porque a vida as levou, outra porque a morte a consumiu. Hoje queria falar contigo porque me sinto vazia, porque há dias, como o de hoje, em que sou assaltada pela ideia mais triste que alguém pode ter: se eu tivesse morrido naquele dia, ninguém teria dado por isso. Ninguém teria sentido a minha falta, porque a verdade é que eu não faço falta nenhuma. Nem mesmo a ti.

Hoje queria falar contigo: queria que soubesses que te pedi ajuda na mesma altura em que perdi a alegria que sempre foi o meu cartão de visita, e tu nunca me ouviste. Queria tentar uma última vez: queria que me oferecesses a paz de te arrumar, sem dúvidas, sem dramas, sem perguntas. Queria que respeitasses o quanto eu sempre gostei de ti.

E isto? É pedir muito?

5 comentários:

Agridoce disse...

Desculpa, agora vão mesmo sair clichés... Apanham-me com net e com uns copos a mais, e dá nisto.

Tu não precisas de nada disso. Achas que sim, achas que se lhe dissesses isso tudo, que se ele te desse respostas, que se tu falasses e ele te ouvisse, ia ser mais fácil. Mas não ia. Ias ter sempre mais perguntas. Ias ter sempre mais para dizer. É uma merda. Uma grandessíssima merda. Este não conseguirmos seguir em frente, este não percebermos, estas dúvidas, este não ter um colo. Mas sabes que mais? Passa. Tudo passa. Parece que não. Parece mesmo que toma conta de nós, que nos puxa para baixo e nunca mais acaba. Mas acaba. Um dia acaba.

E não depende dele. Não depende de nenhum "ele". Depende de ti. De fazeres o teu luto de toda a merda que tem acontecido. De te encontrares. De encontrares em ti a tua força e ultrapassares isso. Porque vais ultrapassar.

E daqui a um mês, vais comemorar o teu aniversário como quiseres, como fizer sentido para ti. Há sempre alguém com quem comemorá-lo: tu mesma. Ou bebemos uns copos virtuais (ou não), se quiseres.

Eu sei que é difícil, que tudo isto parecem palmadinhas nas costas e palavras condescendentes, mas, em não podendo dar-te um abanão, deixo-te esta réstia de esperança: tudo passa. E tu és mais do que isto.

Força (e desculpa o abuso!...)!

ernesto disse...

Não tens de me pedir desculpa por nada. Eu é que tenho de te agradecer!

E acho que entendes o meu mal; durante cinco minutos, eu achei que já lhe tinha feito todas as perguntas que queria. Depois descobri mais mil trezentas e oitenta perguntas que ainda não lhe tinha feito, e então faço-as de rajada porque não sei ser de outra forma.

Mas passa, não é? Há de passar! :)

Joana Sousa disse...

Eu não posso dizer que percebo. Mas posso dizer que sei que não é dele que precisas - já vi histórias como a tua à minha volta e nunca nenhuma das pessoas precisava realmente de outra pessoa, precisavam era de si mesmos...e é a ti que tens que fazer as perguntas que queres fazer. E se não souberes a resposta, olha, foda-se, não sabes hoje, mas ela há de aparecer. E enquanto não aparecer...olha, não sei. Grita, faz boxe, faz o que te der na real gana, mas há uma coisa que eu sei - ninguém sente mais a tua falta do que tu mesma. Fosses tu muito feliz, e isso seria verdade na mesma.

Este chorrilho de tretas pode não adiantar de nada, e eu não te conheço, e não sei se não estou para aqui a dizer merda. Mas olha...abraço virtual? *

ernesto disse...

Abraço virtual recebido!

Anónimo disse...

Se calhar é pedir muito... pouco que seja, pode ser muito para quem não tem nada para dar.
Em contrapartida há quem dê tudo e, no fim, acaba com essa sensação de vazio. :/