sábado, 6 de dezembro de 2014

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Houve uma altura em que eu vivia na ilusão de que tinha uma definição certa para mim própria e que estava plenamente consciente de quem sou - mas descobri que não é bem assim, que não nos vamos tornando mais seguros do que somos com os anos e que crescer passa por aceitar que, na maior parte do tempo, não fazemos a mínima ideia de coisa nenhuma. 

Entendo agora que nunca sou a mesma coisa durante dois dias seguidos, que mudo de direção mais depressa do que o vento e outras vezes vou à boleia dele, porque preciso de me perder só para ter o gostinho de me encontrar outra vez. E também não tenho uma explicação lógica e racional para cada uma das minhas decisões - sou exageradamente impulsiva e medianamente louca. Nos escassos momentos em que tenho juízo, percebo que tem tudo muito mais piada quando se perde a cabeça. Mas juro, juro, que não sei a quantas ando nem para onde vou; divido-me em duas, ou em mais, mostro o meu ponto de vista conturbado e esquisito, deixo que o mundo entenda que não vale a pena perderem tempo a tentar entender-me porque eu não faço sentido nenhum. E há dias em que me sinto sozinha dentro das minhas escolhas absurdas, mas há outros em que não trocava de lugar por dinheiro nenhum deste mundo. 

Entendem o problema? É que eu desligo-me das pessoas, fujo-lhes, porque nunca estou bem em lado nenhum. Sinto que lhes falta alguma coisa, que estão incompletas, mas não sei o que lhes falta nem como as completar - e então fujo-lhes, cobarde e inflexível, incapaz de me domar ao ponto de encaixarmos mais ou menos porque quero tudo por inteiro. Mas no dia a seguir já lhes sinto a falta e bate-me à porta a ideia de que é tarde demais. O meu problema é isto: preciso de experimentar para saber se gosto, se quero, se vale a pena, ignorando o facto de haver coisas que não voltam depois de as termos descartado uma vez. Já não sei o que fazer comigo mesma porque nem eu sei o que quero. Então e agora? Perdi-me outra vez.

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