Começam a enervar-me os olhares de desaprovação e desapontamento de cada vez que eu digo que mudei de ideias e os meus planos já não passam por uma ida para a universidade; dizem que faço mal, que vou ser menos do que os outros, que podia ir mais longe.
Estou mais ou menos consciente de uma pessoa que não passe anos na universidade será eternamente julgada como inferior e sem estudos mas, meus amores, eu não sou de modas - neste momento, toda a gente entra nas engenharias do raio-que-os-parta e a maioria nem sabe bem o que lá anda a fazer, mas sabe que essa é uma boa forma de gastar o dinheiro dos papás em tudo quanto seja festa e, mesmo assim, deixá-los orgulhosos porque um dia o menino vai ser um sô doutor. Ainda que, quando esse dia chegar, eles já estejam mais mortos que vivos e o tipo precise de andarilho. Pormenores.
Além do mais, eu não preciso de um diploma que me dê estatuto para acabar a repôr as prateleiras no lidl. Nem a gritar por batatas fritas e mais um cheese no mac. Posso ter, mas é só para esfregar na cara dos outros que estudei mais, apesar de valer a mesma merda; são escolhas. E eu já fiz a minha.
Já quis ser veterinária, já quis ser enfermeira e até - gozem lá com a minha alma de pelintra - já fui uma miúda que passava horas à volta do cabelo das bonecas e jurava a pés juntos que queria ser cabeleireira. Agora eu não sei o que quero ser, mas encontrei uma forma de chegar mais perto de onde queria estar, mas de forma menos comprometedora e, sobretudo, menos definitiva; no final das contas, percebi que nunca me adiantaria de muito andar a estudar quase até aos trinta anos para depois, ainda por cima, ter um desses empregos onde, se algum dia cometer a loucura de constituir família, cruzo-me por acaso com o puto na cozinha e a criatura pergunta ao pai quem é a gaja e porque raio é que ela de vez em quando aparece lá em casa. Sobretudo, eu quero trabalhar para viver e não viver para trabalhar, mas preciso ainda mais de estar segura de que não preciso de fazer o que faço hoje até ao fim dos meus dias, só porque em tempos me pareceu a escolha certa. Sou demasiado instável para me comprometer, para escolher uma profissão para sempre. Sou demasiado livre para me querer prender a alguma coisa. E portanto, se decidirem vir falar comigo sobre o quão mais feliz eu seria se me enfiasse na universidade, não venham. Vão-se foder e enfiem os canudos no cu; eu estou bem assim.
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