quarta-feira, 2 de outubro de 2013

era uma vez uma patrícia que gostava mais de escrever do que de dormir.

Há coisas que ficam por explicar, e coisas que não precisam de explicação. Eu já não quero saber de mais nada; sei o suficiente para compreender o porquê de te querer aqui. E também não me apetece explicar-to.

Por mim, deixo-te instalares-te devagarinho na minha vida. Um dia dormes cá, e no dia seguinte já trazes a escova de dentes; fingimos que não importa, porque no fundo nem importa mesmo. Umas semanas depois, metade do meu armário, está cheio com a tua roupa, com roupa que vais trazendo para o dia seguinte, com roupa que vai ficando para lavar.

Talvez nos assustemos neste ponto, talvez não. Acredito que uma das coisas que não precisam de explicação, é a atração entre dois corpos. Ninguém está minimamente interessado na relevância que isso possa ter na física ou na química, quando já experimentou realmente essa força inominável que explica aos corpos, em linguagem de corpos, o porquê de quererem ficar juntos. E mesmo não sabendo porquê, eles sabem-no e a nós não interessa. 

Pode ser que não tenhamos medo de nos deixar ir na corrente. Começo a alinhar uma caneca azul ao lado da minha cor de rosa, no armário. Escolhemos juntos os cortinados da sala, e decides ajudar a pagar as contas da casa. Já é como se fosse meio tua. E, mesmo depois de tudo isso, continuamos a não saber explicar o que nos mantém juntos; então, culpamos o dinheiro. Culpamos o medo da solidão. Culpamos tudo e mais alguma coisa, por medo de que seja verdade. Mas não é.

Talvez nos separemos nesta altura. Rasgam-se as cartas, fazem-se as malas, mudam-se as fechaduras. Deixas de ser bem vindo na minha casa, deixas de ser bem vindo na minha vida. Quero-te longe. Não me importo de ser eu a apagar a luz do teto todas as noites. Não me importo de ser eu a levar o cão a passear todas as manhãs. Não me importo de ter de sair menos para ter dinheiro para as contas.

A verdade é que não me importo mesmo. O mal é que, pela primeira vez, começo a entender um bocadinho da força que me unia a ti. Começo a entender o porquê de tudo aquilo. E, pela primeira vez, percebo que, não gostando de lhe chamar amor, eras a minha pessoa favorita em todo o mundo, e eu estava viciada em ti. Que há mesmo pessoas que se escolhem umas às outras como pares perfeitos. Pessoas que têm de ficar juntas, dê no que der. Então, volto a deixar a chave sobresselente debaixo do tapete da entrada para o caso de tentares voltar. No fundo, sei que voltarás, passe o tempo que passar. Ou, se a teimosia não te deixar fazê-lo, não tem mal - eu prometo que te vou voltar a encontrar.

1 comentário:

Jô. disse...

PERFEITO!
Beijinho*