Não gosto que me digam para ter cuidado, porque, embora não o diga, eu também tenho medo. Morro de medo de imaginar o sítio onde isto me pode levar; já lá estive antes. Já conheço parte do desfecho de uma história que parece não ter fim, e parte de mim sabe que nunca mais se quer aproximar de lá. Mas a outra parte é teimosa.
A outra parte sabe que às vezes desistir de bater contra a parede não só é um gesto de cobardia, como também torna inúteis todos os esforços anteriores. Essa é a parte que quer voltar uma e outra vez, que quer bater com a cabeça na parede as vezes que forem necessárias até a derrubar. É a parte que ainda acredita.
Por isso, não me prendam. Eu também não sei o que estou a fazer, mas se não me perguntarem onde vou, se não me obrigarem a pensar, eu deixo-me ir sem fazer perguntas, e amanhã logo se vê no que dá. Ou, no fundo, talvez eu saiba exatamente para onde estou a ir, só não saiba o que fazer com isso, por ter consciência de que o passo final é um trapézio sem rede e estar ciente de que vou cair outra vez.
Lamento, mas eu ainda acredito em algo mais do que pessoas. Ou talvez mais do que nas pessoas. Ainda acredito em ligações inexplicáveis que ou alimentam a vida, ou nos matam por dentro. Não sei explicá-lo, mas ninguém me convence que não existam laços invisíveis que ninguém sabe quem atou; talvez tenha sido feito a dois. Duas pontas diferentes de uma mesma corda atadas inexplicavelmente, sem que se desse por isso.
Por agora, não quero saber. Vou andado por uma estrada estreita, a ver onde vai dar; às vezes corro, às vezes páro - só decidi que não voltaria para trás. Quando chegar ao fim do caminho, salto - e logo se vê se a corda parte ou se aperta o laço.
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