Por mais vezes que me despeça de ti, e que prometa a mim mesma que é a última vez que te escrevo, acabo sempre por falhar. E é sempre à noite, quando o silêncio se apodera de tudo à minha volta, que se torna impossível ignorar essa vontade de escrever tudo aquilo que não ousaria dizer-te.
Quero sempre pedir-te desculpa por tudo e mais alguma coisa, mas sei que no fundo ninguém tem culpa por eu me ter apaixonado. Talvez o acaso, sim. Se algum dia eu te dissesse como é que me apaixonei, julgar-me-ias louca. De qualquer forma, nada disso importa agora. Nem nunca.
Só te posso garantir que foi muito fácil apaixonar-me por ti. Demasiado fácil, talvez. Em parte, por eu ter a mania de ser observadora e reparar nos pormenores, mas grande parte foi feita por ti. Dia após dia, a tua simplicidade desarmava-me mais um bocadinho, e em menos de nada, já te tinha decorado meia dúzia de façanhas. Cria-me cega, imagina, cria-me tão iludida, que passei imenso tempo em busca de defeitos que viessem destruir a imagem que tinha de ti. Que desperdício de tempo! De cada vez que tentava afastar-me, só me apegava ainda mais. Provavas sempre ser a pessoa que eu, no fundo, sabia que eras. Mas jamais o saberias, achava eu. Jamais te deixaria saber que sentia por ti uma admiração quase infantil.
Perdoa-me se não soube parar a tempo. Ainda agora, não sei como parar. Às vezes vêm-me à ideia conversas sem sentido, mas sinto-me mal por saber que não soube responder. Lembro-me de me teres dito uma vez que eras estranho. Não faço ideia do que te disse, mas estou certa de ter pensado que era exatamente por seres estranho que eu gostava de ti. E é. Precisava de conhecer alguém como tu para me lembrar de que ainda existem pessoas que valem a pena. E mesmo que não compreendas porquê, estou-te grata por teres sabido não me magoar. Lamento o facto de nunca te ter sabido falar. Não que fosse mudar grande coisa, mas devia ter dado a mim mesma a oportunidade de te tentar conhecer melhor.
Agora, nada disto faz sentido. Ou faz, mas de uma maneira dolorosa porque a ideia de não te voltar a ver, se torna cada vez mais real, e sei que, mais tarde ou mais cedo, a tua imagem já não vai ser nítida na minha cabeça, e o timbre da tua voz, misturar-se-à com outras vozes mais recentes. Não queria isso. De uma forma absurda, queria que te mantivésses intacto na minha memória. Mas, não te preocupes, jamais te procuraria. Entrego-me ao acaso e à sorte, e logo se vê.
Vai haver um dia em que isto me parecerão palavras soltas, completamente absurdas, mas ainda não é agora. Até lá, invades-me a memória frequentemente, e deixas-me a amaldiçoar-me a mim mesma por ser quem sou. E também te vou continuar a comparar a todos aqueles que me atraiam a atenção, porque, por mais bonitos, por mais inteligentes que sejam, nenhum deles és tu, e vai demorar até que alguém me toque da mesma maneira que tu me tocaste. Enquanto assim for, não me resta senão esperar até que não sejas mais do que uma recordação distante. Uma boa recordação.
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