terça-feira, 13 de agosto de 2013

cartas que não vou enviar

Nunca fui daquelas pessoas que sentem necessidade de ver a vida traçada com régua e esquadro em papel milimétrico. Antes pelo contrário, sempre tive uma paixão pelo imprevisível, pelo logo se vê. Sempre gostei de ter o prazer de poder deitar-me a adivinhar o que se seguiria, em vez de ir caminhando por trilhos que já todos sabiam onde iam parar. Não sou assim.
Contudo, preciso de incentivos. Preciso da confirmação de que vai valer a pena dar o primeiro passo, de que, de uma forma ou de outra, tirarei alguma vantagem de saltar de cabeça. Preciso de ter uma réstia de esperança de que algo pode ainda correr  bem. É isso que me faz falta neste momento. Talvez nunca tenha estado tão mal quanto agora, tão sem esperança, tão desamparada. Para qualquer lado que eu me vire, há alguma coisa errada. Demasiado errada para que eu tenha vontade de continuar.
Tenho tentado deixar de escrever para ti, mas não consigo. Tudo o que me resta de ti, são memórias que vão ficando distorcidas dia após dia, e ao menos quando te escrevo – ainda que já mal conseguindo distinguir a realidade da imaginação – é a única forma de me sentir mininamente perto, e não consigo despedir-me de ti já. Na realidade, não queria ter de me despedir de ti nunca.
Sei que não te voltarei a ver, e é essa ideia que me consome lentamente. Claro que, se algum dia lesses isto, te pareceria um drama absurdo. Tal como parecerá a todos os outros que nunca tenham gostado de alguém que sabiam que não voltariam a encontrar. Um dia passa, é óbvio que passa, mas enquanto por cá está, é dos piores sentimentos que me lembro de algum dia ter sentido, porque sei que não há absolutamente que eu possa fazer nada para mudar isso. Resta-me conformar-me, que é uma das muitas coisas em que eu sou má.
Faz-me falta uma data. Podia ser uma data distante – podia ser, sei lá, a 20 de dezembro. Neste momento, isso bastar-me-ia. Contaria os meses, os dias, as horas se preciso fosse – mas sabia que dia 20 de dezembro, eu ia ser um bocadinho mais feliz. Poderia empregar a frase mais marcante do principezinho, porque se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. E então, eu começava a ser feliz com um mês de antecedência. Começava a imaginar o reencontro de mil maneiras, mesmo sabendo que nenhuma delas seria a real. Sei lá. Mas assim não. Assim não dá. Nunca mais é tanto, tanto tempo, para alguém que tem saudades.
Dava tudo por um bocadinho mais de ti. Mais cinco minutos. Um olá. Não me perguntes porquê, mas preciso de te ver, talvez mais agora por tudo o que se tem passado, por me sentir mais vulnerável, por estar assustada. Não faço ideia. Mas sinto a tua falta, mesmo sabendo que pouco ou nada farias estando presente. Acho que é mesmo isso. Só precisava da tua presença. 

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