Tenho-me apercebido de que tenho passado a vida em busca de algo que insiste em escapulir-se-me por entre os dedos, ao ponto de nem eu saber o que é. Como se estivesse a correr para um sítio indefinido, e soubesse que esse e o sítio certo. Não sei porquê.
Estou sempre revoltada com tudo. Revolto-me porque as pessoas não entendem os meus gostos estranhos. Revolto-me porque todas as pessoas estão felizes e eu não. Revolto-me porque insistem em meter as colherzinhas do café no cesto dos talheres da máquina de lavar louça no sítio errado, e assim demoro mais a tirá-las de lá. Se isto faz algum sentido? Não. Mas irrito-me com tudo isto e com mais ainda, como se os dramas que me são alheios e estas perdas de tempo, me estivessem a desviar do que eu realmente tenho para fazer. De onde quero ir. Como posso compreender-me? Nem eu sei.
Também me revolto com pessoas, mas quase que gosto disso. Quase que gosto das que me tentam chamar a razão, só pelo prazer de lhes poder responder, de as fazer saber de que as irei contrariar só por prazer. E fingirei odiá-las, mesmo sendo dessas - as que me odeiam - aquelas de quem eu gosto mais. Provavelmente, porque não querem de mim mais do que aquilo que estou disposta a dar-lhes - o desprezo. Não esperam que lhes pergunte como vai a vida la em casa, ou se se tem alimentado bem. E então, não me custa tê-las por perto.
O truque é mesmo este. Manter estas pessoas sempre bem pertinho, para que eu possa sentir essa revolta, essa raiva incontrolável, mascarada de ódio puro. O truque é fingir que ainda sou capaz de gostar menos de alguém ou de alguma coisa, do que gosto de mim mesma.
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