terça-feira, 27 de agosto de 2013

cartas que não vou enviar

Às vezes dou por mim a pensar no antes e no depois de ti, como se tivesses marcado um ponto de viragem. Uma chegada, e uma partida logo de seguida. Para te ser franca, é estranho pensar em como era antes de te conhecer. Há pessoas que sentimos que conhecemos a vida toda, mesmo antes de as conhecermos. Outras, porém, só nos fazem sentir pena por não as termos conhecido antes.

Não sei em qual dos grupos te quero enquadrar mas, na dúvida, encaixo-te no segundo. Se bem que, se te tivesse conhecido antes, talvez não tivesse conseguido reconhecer o que de bom havia em ti. Precisava de todas aquelas más experiências, de todo o desapontamento, de toda a descrença que alguém me causou, para que tu mudásses isso. Sim. Talvez tenhas chegado na altura certa.

Talvez agora esteja tão mal quanto estava antes, mas estou mais calma, e devo-te isso. Mesmo que nunca o chegues a perceber – mesmo que nem eu consiga entender nunca o efeito que tiveste sobre mim, creio que não me interessa. Não espero absolutamente nada de ti, e não te cobro nada. Nem sequer que entendas o que raio me leva a escrever para e sobre ti vezes e vezes sem conta, para repetir palavras que vão perdendo cada vez mais o sentido.

Não acredito que algum dia me esqueça de ti, mas é óbvio que, mais tarde ou mais cedo, acabarei por te esquecer. E, sinceramente, isso não me assusta. Sei que não se esquece alguém à velocidade que seria aconselhável. Não vou acordar um dia e já mal me lembrar do teu nome. É preciso que se deixe passar o tempo, e no momento certo, as coisas começam a acontecer. Começo a perder os pormenores.

O problema é que, a primeira coisa que a distância elimina, são os defeitos. Confesso que não me consigo lembrar daquilo que me irritava em ti, das coisas que não gostava. E elas existiram, como é óbvio, mas esqueci-me. Talvez porque não eram importantes, talvez porque a memória também não decidiu jogar a meu favor. Não sei. Resta-me a esperança de que não tardará muito a que esqueça todos aqueles pormenores que absorvi em menos de nada.

Nesse dia, talvez comece a deixar de escrever sobre ti, mas neste momento não consigo. É a única maneira de aliviar a falta que me fazes. 

1 comentário:

somaijum disse...

Não se apaga uma pessoa da nossa vida, seja qual for o tipo de relação, com o simples passar de uma borracha.
Ou talvez apague... o que sei eu de "desenho"?...