domingo, 13 de outubro de 2013

reflexões de uma mente perturbada

Acho que nunca pensei muito em como seria perder um amor. Para ser franca, não creio que algum dia me tenha deitado a adivinhar como seria realmente um amor, por falta de vontade em acreditar na possibilidade de existência de um sentimento que nos consiga levar aos extremos - tanto o da alegria, quanto o da dor. Isso só mudou mudou depois da morte do meu tio. Depois ter visto o vazio em que a vida da minha tia se transformou, ao fim de quase cinquenta anos de vida partilhados com ele. 

Passaram-se mais de dois anos desde a morte do meu tio, e ainda a vejo chorar por ele. Sente-lhe a falta, coitada. Nem era de esperar outra coisa, depois de mais de metade de uma vida partilhada com aquele homem, depois de tudo o que viveram juntos. E pela primeira vez, dei por mim a achar que perder um amor devia ser mais ou menos como amputarem-nos metade de nós. Uma perna, um braço, metade do tronco, metade da cabeça. O que sobra é incompleto, inútil - mantém-se vivo à espera da morte, à espera de se voltar a encaixar na metade que já se foi.

Talvez seja esta uma perspetiva exagerada do que é viver um grande amor, mas não consigo imaginá-lo de outra forma. Aquela mulher viu o marido definar-se com cancro, dia após dia. Um cancro que não parava de se apoderar do corpo dele. E depois, com um sorriso irónico, a puta da morte leva-o com uma infeção no coração. Assim, sem mais nem menos. E ela não teve outro remédio senão ver ir-se a sua metade que vivia na esperança de o conseguir manter vivo para sempre.

Isto costumava assustar-me ao início. Não me conseguia imaginar a dedicar a minha vida a alguém sabendo que, mais tarde ou mais cedo, podia acabar por perdê-lo. Costumava pensar que mais valia nunca deixar que alguém se apoderasse dos meus sentimentos de forma a que eu começasse a julgar gostar mais dele do que de mim mesma, porque sabia que não sobreviveria mais sem ele. Ou tinha medo de acabar como a dona maria, que enlouqueceu depois da morte do marido. Está provado que a dor enlouquece as pessoas, e esta não me parece a melhor razão para enlouquecer. Ou não parecia.

Acabei por perceber que não querer viver um amor por medo de o perder era equiparável a nem sequer querer nascer por estar ciente de que teria de morrer. Entendi finalmente que o importante não é, de todo, o início ou o fim de algo, mas sim o que se faz com o intervalo que os separa. E então, eu quero um amor - um amor total e absoluto, a quem entregar cada bocadinho de mim. Quero alguém que me entorpeça, que me enlouqueça, que me deixe sem chão. Quero alguém por quem valha a pena morrer.

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