quinta-feira, 29 de maio de 2014

ainda sobre o noivado dos outros

Não gosto de casamentos pela mesma razão que achei ridículo o conceito do novo programa da sic - é tudo muito bonito, é tudo sobre o amor, é tudo por amor, mas gira tudo à volta do dinheiro. Como sempre. Como se não houvesse mais nada neste mundo que importasse mais.

Don't get me wrong, é óbvio que o dinheiro importa porque, com grande pena minha, o afeto não paga dívidas nem mete comida na mesa, a não ser que se trate de uma prostituta muito dada ao sentimento, mas ainda sou inocente ao ponto de achar absurdo que o mundo gire à volta de papel - e não me fodam, o casamento é um negócio.

Acredito que por mais anos que viva, nunca vou conseguir entender a excitação de se gastar mais dinheiro num só dia do que aquele que eu ganharia a limpar sanitas na disneyland durante cinco meses. O melhor de tudo é que, de cada vez que eu digo isto em voz alta, há sempre alguém que me diz então e o dinheiro que ganhas dos convidados? que é outra coisa que eu acho fascinante - convidam as pessoas, como se estivessem cheios de boas intenções, para ir a um casamento, e ficam à espera de uma prenda choruda que ajude a pagar as despesas do dia. Ou, no caso dos casalinhos a quem os papás pagam a fantochada toda, o dinheiro serve perfeitamente para ir ao ikea comprar estantes e prateleiras onde enfiar todos os cacarecos que as primas vindas do tibete especialmente para o dito casamento, mais as outras do sul da escandinávia e o tio do méxico, trouxeram. 

O casamento é um negócio estúpido, como tudo o resto que as pessoas teimam em camuflar de amor. Se eu gostava de ter alguém ao meu lado que me aturasse o resto da vida? Gostava. Quem é que não quer conhecer alguém com quem partilhar os dias, as noites, as horas felizes, as horas mortas e o caralho do copo para mergulhar a placa durante a noite? Todos nós. Mas estou mais ou menos certa de que não é preciso passar não sei quanto tempo a ouvir o padre repetir o que já disse um milhão de vezes a um milhão de outros casais, que acaba sempre no e até que a morte vos separe. Não há necessidade de ir encher o bandulho àquela coleção de lontras que convidámos para o casamento só por simpatia, só porque parecia mal excluir. Não há necessidade de espetar um anel no dedo só para dizer que se pertence a alguém - acredito que esse sentimento de entrega não precise de uma expressão física. Aliás, eu acredito que o sentimento, quando exista, não precisa de mais do que de si próprio para ser o que é. Um papel assinado não determina nada, uma troca de alianças não significa nada, um beijo em frente a uma igreja cheia de gente cujos pensamentos se dividem entre a comida e a vossa noite de núpcias, também não muda absolutamente nada. Tal como casar na conservatória, só pelas implicações legais - também não convidavam duzentas pessoas para vos verem assinar o empréstimo para comprarem um carro, pois não? Bem me pareceu.

O casamento é um negócio absurdo porque não é sobre amor e resulta muitas vezes num teste à inércia. Quantos casais não estão juntos porque não têm dinheiro ou paciência para um divórcio? É mais ou menos por isto que eu não quero casar nem tenho paciência para casamentos no geral - isto e porque é deprimente imaginar uma lontra dentro de um vestido de noiva. Mais ainda tendo em conta que o noivo teria de entrar na igreja com um cão guia, mas enfim - prefiro ser uma lontra livre.

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