Sou do inverno. Lembro-me disso todos os anos mas esqueço-me durante a felicidade dos dias de sol em cada verão. Sou da chuva a fustigar as janelas e do vento a fazer-se ouvir como um assobio; sou dos relâmpagos a entrecortarem os céus e a fazerem-me lembrar do quão pequenos e inúteis somos num mundo que julgamos dominar, e do som do trovão, ao longe, como uma promessa de que tudo vai passar. Sou dos lábios gretados e das pontas dos dedos insensíveis de tão frios que estão - e de um coração que, de tão gelado estar, se vai podendo enganar aos poucos e convencê-lo de que está feliz.
Sou das labaredas a beijarem os tijolos da lareira e do crepitar de um fogo que me leva sempre para uma infância inocente e feliz, antes de ter sido capaz de compreender o que se passava comigo e de que forma isso me iria perseguir a vida toda. Sou do mau tempo assim como sou um furacão em pessoa - ou tento ser, pelo menos. E é em dias destes que me lembro disso e percebo que há coisas piores no mundo e que, o que para a maioria das pessoas é um dia horrível, para mim é um dia mais bonito e reconfortante do que qualquer outro ensolarado de agosto. As coisas não vão bem, é certo - mas eu sou por este mundo, sou por estes dias, e aconteça o que acontecer - já tive dias mais tristes.
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