quinta-feira, 7 de agosto de 2014

mirror, mirror in the wall

Não me lembro de uma única vez me ter achado bonita. Nem mesmo em pequena. Sempre tive a plena consciência de que era a menina gorda e feia. Pior do que feia: diferente. Anormal. Indigna de agir com naturalidade, de se fingir normal. De fazer de conta que não sabia.

Esta ideia está de tal modo enraizada em mim que não consigo desfazer-me dela - eu continuo a ver-me tal qual me via há dois, há cinco, há  dez anos atrás. Continuo odiar a imagem que o espelho me retribui e a duvidar que algum dia alguém se interesse genuinamente por mim. E isto só faz de mim alguém chato e muito desconfiado - não é por mal. É em mim que eu não confio, não é nos outros. Juro. É a mim que eu detesto, é de mim que eu quero fugir, não é dos outros. Juro. E lamento por todas as vezes que sou parva à conta disso - mas nunca soube ser diferente. Eu de certeza que já era o espermatozóide mais feio do grupo, não há nada a fazer.

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