Houve uma altura da minha vida em que eu tinha uma amiga. Uma única amiga. Não conseguia relacionar-me com as pessoas - acho que tinha medo que me voltassem a magoar. Eu senti o que era o bullying na pele, anos antes de lhe atribuírem uma designação pomposa - eu fui gozada, porra. Fui muito gozada durante muito tempo; durante tanto tempo, que também aprendi a gozar. Comigo mesma, essencialmente.
O problema é que, apesar de esses episódios já serem escassos nos dias de hoje, eu continuo a não saber relacionar-me com as pessoas. Agora dou-me bem com muito mais gente mas continuo a ter pouco mais do que uma amiga. Continuo armada em padeira de aljubarrota sempre que se aproximam de mim e a mostrar essa patrícia inabalável que nunca fui, a desarmar quem nem me queria atacar, fazer de conta que sou só arrogante e mal educada. E forte, muito forte; mas não sou, nem nunca fui. No fundo, continuo só a ser uma miúdinha assustada que se esconde nas sombras para não voltar a ouvir as frases que lhe ficarão para sempre na memória - interiorizei-as. São minhas agora, ditas por mim, repetidas por mim. E, deste momento, já nem preciso que as usem para me tentar destruir. Eu faço-o sozinha.
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