Faz hoje um mês e eu continuo sem conseguir explicar como é que aquilo aconteceu - não estava planeado. Aliás, para vos ser franca acho que sempre esteve bem longe dos meus planos; eu era muito senhora de mim, sabia bem o que sentia e por quem o sentia, não ia pôr isso em causa. Nunca me entregaria assim.
Mas entreguei. Soube que ia acabar por ceder quando nos separámos no meio da multidão e eu percebi que seria realmente difícil encontrá-lo. Creio que foi a ânsia de o voltar a ver que me despertou os sentidos - quando o encontrei, quase o beijei. Nunca percebi porquê mas ter a mão dele na minha era o tal regresso a casa que me fazia falta, ainda que eu estivesse demasiado baralhada para o entender.
Nunca me quis apaixonar por ele. Disse a mim mesma, um milhão de vezes, que ele estava longe de ser o que eu queria para mim. E talvez não seja mesmo - mas há coisas que não se escolhem. Ele voltou a ausentar-se nessa noite, e eu voltei a dar por mim a olhar para todos os lados, à procura dele. Todos à minha volta se aperceberam disso, mesmo os que tinham acabado de me conhecer - eu continuava segura de que não queria saber dele. Mas queria. Queria mesmo - depois de mil e uma tentativas falhadas, nessa noite deixei que ele me beijasse. Porque eu quis. Quis esse beijo e todos os outros que se seguiram. Não sabia porquê, mas estava feliz.
Continuei a dizer-lhe que havia outro, mesmo depois disso. Mesmo que, bem vistas as coisas, o outro tenha começado a existir cada vez menos depois dessa noite. Eu estava a apaixonar-me lentamente por outra pessoa, mas obriguei-me a cair de páraquedas porque achei que não era suficientemente dona de mim para me deixar em queda livre - antes o tivesse feito. Ele merecia-o - passou um mau bocado comigo, confesso. Mas agora está a fazer-me pagar por isso da forma mais injusta que se possa pensar; depois de todo o tempo que levou a conquistar-me, decidiu desaparecer da minha vida sem explicações. Sem motivos aparentes. E, claro, a minha mente treinada para a autodestruição nunca me vai deixar descansar - a culpa será eternamente minha. Será sempre da miúda gorda, feia e absolutamente desinteressante. Depois de todo o bem que me fez, decidiu destruir-me outra vez.
Faz hoje um mês - com a pressa, quase nem me despedi dele na estação. Agora, quem me dera voltar atrás - quem me dera poder apanhar o último comboio e voltar-lhe para o abraço quente. Podia ter feito as coisas certas, mas tive medo. Quem me dera ter sabido viver.
Sem comentários:
Enviar um comentário