Gostar de alguém é um negócio complicado. Uma pessoa começa por tentar trocar só um bocadinho da atenção com outra pessoa, assim, troca por troca, e quando dá por si já lhe vendeu o coração, a alma, o tempo, e ainda não recebeu mais do que um leve aceno de cabeça em jeito de agradecimento. É complicado, já disse.
Nunca controlamos. E quando estamos suficientemente cegos para dizer que ainda conseguimos voltar atrás, que ainda há volta a dar, é porque já não há mesmo nada a fazer. Gostar é quase como uma droga letal - gostar mata. Já vos falei dos fins do mundo, e gostar de alguém, não correndo bem, dá-nos direito a um fim do mundo por dia. Quanta generosidade, nossa senhora. Mas, correndo bem, é a melhor coisa do mundo.
O absurdo é achar que se gosta sempre, que se gosta em linha reta, que não existem picos. Às vezes gosta-se pra caralho porque as coisas andam bem e o coração parece querer explodir de alegria, outras não se gosta nem um bocadinho porque as coisas andam mal e as desilusões parecem querer consumir todas as alegrias passadas - mas gosta-se todos os dias. Uns mais, outros menos, mas só desaparece quando esses picos deixarem de existir.
Gostar de alguém é realmente complicado - não é fácil dizer a alguém de que gostamos dela. Especialmente quando não estamos habituados a deixar os outros saber que nos têm na mão, é assustador mostrar-lhes que nos podem esmagar assim que quiserem. E é difícil explicarmos a alguém a forma como nos apaixonámos sem dar conta e o quão perdidos nos sentimos no dia em que ele nos começou a fazer falta. E então, nós estamos chateados, realmente chateados, e a pessoa sorri - e, nesse momento, parece o sorriso mais fofinho do mundo porque lhe sentimos a falta e porque, deus, ele nem sonha o quanto gostamos dele e o quanto o queríamos ter perto todos os dias -, e queremos continuar chateados, realmente chateados, porque somos donos de uma razão qualquer. E, de cada vez que ele fala, sentimos uma tempestade nova dentro de nós, porque sabemos o quanto sempre admirámos a capacidade dele de dominar qualquer assunto e de tornar tudo em conversas interessantes. Mas não queremos sentir isso, porque estamos magoados e porque sabemos que é imperativo esquecer - mas demora. E vai doendo, entretanto.
Gostar é complicado, controverso, e faz-nos parecer autênticos otários que adoram magoar-se - mas às vez, só às vezes, sabe bem. Sabe tão bem.
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