A regra número um do código de conduta para uma convivência razoavelmente tolerável entre dois seres humanos devia ser, a meu ver, a proibição de fazer perguntas desnecessárias para as quais não se quer resposta. E, entenda-se, não estou a falar das habituais perguntas retóricas que todos fazemos em algum momento, tipo «quando é que eu fico rica?», ou «quando é que este gajo deixa de ser um conas?», porque todos sabemos a resposta: nunca.
Refiro-me àquela necessidade portuguesíssima de fingir que queremos mesmo saber como é que vai a vida de uma tia que só cumprimentámos para não sermos excomungados: o típico «olá, tudo bem?», proferido enquanto se caminha sem parar e se força um sorriso que só se assemelha ao que usamos quando estamos em público, rodeada de mocinhos apetecíveis, e de repente aparece uma crise de gases que nos deixa a comprimir os glúteos um contra o outro como se estivéssemos a tentar segurar a paz, a saúde e o amor de toda a humanidade.
Esse tipo de perguntas. Vocês cruzam-se com a pessoa na rua, perguntam se está tudo bem e continuam a andar; vão convencidos de que fizeram a coisa certa e ficam muito contentinhos, mas a verdade é que a pessoa fica ali, sozinha, portuguesíssima que só ela e com todo um rol de desastres para contar: são as contas para pagar, a subida do preço dos combustíveis, o furúnculo no sovaco, a candidíase da avó e a dificuldade em dormir porque a vizinha de cima tem um bar de alterne montado na sala de estar. Mas enquanto a criatura vos conta isso tudo, vocês continuam a caminhar, indiferentes e sem a mínima pachorra para ouvir fosse o que fosse; já estão vocês a chegar à rússia, a pé, quando a pessoa entende que não valia a pena ter dito mais do que «olá» e retribuído o sorrisinho falso.
A sério... para quê perguntar?
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