Perdi a conta às vezes que te disse adeus, que ensaiei longos discursos que precederiam a minha partida definitiva, a minha retirada da tua vida. Perdi a conta às vezes em que me tentei convencer de que a raiva momentanea poderia, de alguma forma, sobrepôr-se a tudo o resto que sinto por ti. Que me permitiria partir sem olhar para trás.
Há alturas em que penso em ti como o destino de férias paradisíaco de onde sabemos que temos de sair, embora não queiramos levar com um banho de realidade. Há alturas em que acho que uma fotografia e um souvenir qualquer serão suficientes, mais tarde, para me fazer sorrir quando me lembrar de ti. Mas há outras alturas em que entendo que há muito tempo que deixaste de ser um paraíso temporário - és a minha casa. És o sítio para onde quero fugir nos dias maus, és o sítio onde quero comemorar os dias bons. És o sítio onde quero estar, todos os dias.
Gostar de ti sempre foi uma manobra arriscada, mas nunca deixou de valer a pena. Foi no meio dos nossos problemas que eu descobri que há formas inexplicáveis de se gostar de alguém, foi no meio dos nossos obstáculos que eu percebi que há maneira de se abraçar uma alma e de que há sentimentos tão profundos que fazem chorar de gratidão. Foi no meio do nosso caos que eu encontrei a minha paz.
A vida é puta e trocou-nos as voltas - a tua, ao mudar drasticamente, mudou a minha também: desculpa-me, mas eu não sei gostar de outra forma que não esta, por inteiro. Quis que entendesses que continuaria aqui, apesar de tudo. Tentei que nunca te esquecesses de que continuavas igual à pessoa por quem me apaixonei, que não poderias fugir das adversidades mas eu ficaria contigo. Fiz de tudo, enfim, para não te perder. Para não te perderes.
Perdi a conta às vezes que te disse adeus, e hoje digo-o outra vez; há alturas em que se perdoa o mal que nos faz um amor com raízes, mas até para isso é preciso um limite. É preciso saber ir embora dos sítios onde sabemos que já só existe dor, mesmo que isso implique fazer as malas e sair do sítio que um dia chamámos casa. É preciso sair, mesmo com as lágrimas nos olhos e um vazio no peito: é tempo de te dizer adeus, meu amor.
É tempo de ir embora.
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