Não estava feliz nem infeliz, só se sentia desamparada. Caminhou em direção à praça principal da pequena vila quase sem dar por isso; a árvore de natal improvisada no centro dava um ar ainda mais triste à praça quase vazia; ninguém parecia querer saber de nada.
Sentou-se num pequeno banco de madeira, já carcomido pelo tempo, e tirou da mala um livro. Ficou a ler enquanto o vento lhe balançava o cabelo, já por si revolto, e se sentia a enregelar; a camisola de malha lã demasiado grande quase lhe cobria a totalidade dos dedos, deixando só as unhas, sempre pintadas de preto, de fora. Estava sozinha, como sempre estivera, somo sempre se sentira. Por qualquer motivo, começava a estar certa de que era a sua melhor companhia, ainda que tantas vezes se tentasse destruir a ela mesma. podia perfeitamente viver assim; a ler. A tentar conhecer tudo um pouco do mundo. Mas de que lhe adiantaria a cultura se ninguém quisesse saber dela? Se ninguém a quisesse ouvir?
Apercebeu-se pela primeira vez do quanto a sua vida era vazia. Voltou a pousar os olhos no livro, mas já não conseguia ler. Sentia-se inútil. Estupidamente inútil. De vez em quando, olhava à volta, como se estivesse à procura de alguém, quando na verdade só queria que alguém a encontrasse e lhe mostrasse que ainda valia a pena.
Nesse dia, a questão que lhe assomava a mente era sempre a mesma; se eu desaparecesse, alguém daria pela minha falta?
Teve medo de saber a resposta.
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