Enquanto esperava pela boleia, fiquei perdida no meio da estação. Não literalmente, claro, mas perdida ainda assim, entre todas aquelas caras desconhecidas que iam passando por mim, vindas de lado nenhum, enquanto uma voz monocórdica e anónima ia anunciando a chegada de mais um comboio e a partida de outro.
Tive saudades, imagina só - de resto, toda eu sou feita de saudades ou não fosse eu portuguesíssima, dessas sofredoras que quase juram a pés juntos que as pedras da calçada de coimbra também choram quando na rua se ouve fado. Tive saudades tuas e esperei, sem esperança, que saísses de um daqueles comboios, quase todos vindos de longe, e me fizesses sentir em casa outra vez.
À minha volta só se ouvia o arrastar das malas ao longo da gare, passos lentos de quem não quer partir, passos apressados de quem tem alguém à espera, silêncios de quem nem sabe se vai se fica. Acho que eu era uma dessas pessoas, das dos silêncios. Das indecisas. Das que, não tendo ninguém à espera de qualquer um dos lados da linha, continuam na esperança de que, como que por milagre, alguém lhes sinta a falta. E senti saudades tuas e desse futuro que inventei para nós mas não nos pertence. Senti saudades do tempo em que os meus sonhos faziam sentido e eu não lhes fechava os braços, com a alma em chamas pelo medo de me deixar ir assim.
Acabei por desistir; a cada nova partida, a cada nova chegada, eu sentia uma dor lancinante que nem sabia de onde vinha, nem sabia o que me doía. Talvez tivesse concentradas em mim todas as saudades de quem se despedia, todas as ânsias de quem recebia, de braços abertos, alguém que também daqui fugiu por uns tempos. E tive de acabar por aceitar que, por mais comboios que passassem, nenhum deles te traria até mim e que a espera, além de inútil, é injusta e tortuosa. Tive de aceitar que nunca virias, ora porque não queres, ora porque não podes, ora porque nem sabes que sempre te esperei. Na dúvida, posso ir ao teu encontro. Ou fugir de vez, na direção oposta.
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