quinta-feira, 3 de abril de 2014

precisava de desabafar

Não acredito que alguém queira, em algum momento, morrer. Queremos parar de viver por um bocadinho, dar-nos uma pausa, respirar fora de nós para logo a seguir retomarmos, do ponto onde ficámos. Infelizmente, isso não é possível. Se assim fosse, hoje eu estaria numa dessas pausas, a respirar noutro corpo, a ver-me noutro eu, a ser outra. Estou cansada.

Nunca quis que fosse a minha diferença a tornar-me diferente. Nunca quis ser distinguida por uma mal formação congénita que nunca esteve nas minhas mãos poder controlar e que, desde que me lembro, só tem trazido sofrimento atrás de sofrimento para mim e para os que me rodeiam. 

Eu não escolhi ser assim. Dava toda a riqueza do mundo para poder ser normal, para deixar de ser a miúda estranha que nasceu com lábio leporino e tem um nariz assimétrico. Dava tudo para deixar de me odiar, para deixar de evitar olhar para o nariz de cada vez que me vejo ao espelho, para deixar de ver isto como um obstáculo para tudo. Mas é. Eu não sou normal e, digam o que disserem, não sou aceite como tal. Sou olhada de lado, sou gozada, sou ridicularizada - e então, tornei-me má, tornei-me fria. Faço de conta que não me importo, enquanto morro mais um bocadinho por dentro. Não há nada que eu goste em mim, não há nada em mim de que se possa gostar. 

Toda a gente é melhor, toda a gente é mais bonita, e eu sempre fui a que não interessa a ninguém. Sempre fui a amiga feia, a amiga esquisita, a aberração - mas, acreditem ou não, eu preferia que ninguém soubesse o meu nome, que ninguém fosse capaz de saber quem eu era através de uma simples descrição. O meu maior desejo é algo tão trivial quanto ser normal. Só isso. Sentir-me normal. E, de uma vez por todas, conseguir parar de me culpar por tudo. Estou cansada de ser a minha pior inimiga e de pensar que, se eu fosse bonita, tudo poderia ser diferente. Se eu fosse bonita, nada disto teria acontecido.

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