sexta-feira, 1 de agosto de 2014

chateei-me

É normal não se gostar de toda a gente - o que não é normal, a meu ver, é não se gostar de pessoas à partida por pertencerem a um determinado grupo. Porque são ciganos, porque são pretos, porque são chineses, porque têm uma pila no meio da testa. Porque toda a gente sabe que aquela gente é de má rés e que mais vale fugir antes que acabemos a sangrar num beco, enquanto alguma dessas temíveis criaturas foge com os nossos rins dentro de uma geleira.

Podia ser boa ideia, pelo menos por um dia, as pessoas compreenderem que há pessoas boas e pessoas más e que isso não é necessariamente intrínseco à origem delas. E sim, eu também já agarrei a carteira com mais força quando passei por alguém, também já atravessei a estrada para não me cruzar com uma pessoa que, à primeira vista, não me inspirou confiança nenhuma. Às vezes são ciganos, são pretos, são chineses. Outras vezes são não-ciganos, são não-pretos, são não-chineses. Espantem-se: às vezes também me assusto com pessoas normais, pessoas branquinhas, pessoas de raça pura, pessoas que têm o direito de serem chamadas pessoas; toda a gente sabe que o mesmo não acontece com os tais já anteriormente referidos. Isso não é gente, é escumalha. É lixo. 

Podia ser boa ideia ouvirem-nos, pelo menos por um dia. Podiam, sei lá, questionar-se se não será o comportamento baseado num preconceito que acaba por gerar reações que servem para aumentar esse mesmo preconceito - é muito bonito dizer eles são isto e aquilo, mas são-no porquê? Digo isto porque ontem assisti a uma cena que me enojou.

Uma cigana, de meia idade, dirigiu-se à mulher da caixa para trocar uma moeda de 2€ por duas moedas de 1€, para poder usar um dos carrinhos. E eu vi a forma como a cigana falou; a mulher desfez-se em simpatias, falou calmamente, sempre a sorrir. Juro que a mulher foi adorável - enquanto a da caixa se limitou a responder-lhe mal e a mandá-la ir procurar a outra. Como se fosse um grande drama.

Se todo o mal do mundo viesse de ciganos ou de qualquer outra raça, acho que seríamos todos mais felizes. Mas não - gente má também veste smoking e vai trabalhar de pastinha debaixo do braço. Outras vezes, vestem o uniforme do pingo doce e limitam-se a mostrar as cabras mal fodidas que são - mas, não se enganem, elas estão por todo o lado.

Sem comentários: