Lembro-me do tempo em que escrevia histórias sobre suicídios, sobre a felicidade de se acabar com a dor - nunca me quis suicidar realmente. Queria matar apenas algumas partes de mim, as partes de que não gostava, as partes que me prejudicavam. Mas, para isso, não sobraria nada.
Lembro-me desse tempo em que andava desesperada à procura de uma saída; nunca a cheguei a encontrar e há dias em que nem me lembro do quanto preciso dela. Mas há outros, como hoje, em que os fantasmas voltam, em que os pesadelos voltam, e volto a ser só eu e essa voz que vive dentro de mim e me relembra constantemente de que não valho nada.
Nunca a soube calar; tenho sido feliz de vez em quando. Há dias em que quase me sinto grata pela vida que tenho e que não faz mal fugir um bocadinho ao convencional, ser diferente, talvez estranha - não o somos todos? Há dias em que não quero saber, mas há outros em que sei tudo outra vez, em que me odeio mais um bocadinho porque não há nada, absolutamente nada, que eu consiga gostar em mim. Nem por cinco minutos. Nem por cinco segundos.
Vivo em sombras. Na sombra das pessoas mais bonitas, mais magras, mais inteligentes. Vivo à espera que as pessoas que me rodeiam descubram que existe sempre alguém que valha mais a pena. Vivo à espera de que qualquer rapaz por quem me interesso me diga isto mesmo. E tenho o poder de me magoar sozinha só por pensar nisto mesmo, que continuo a ser descartável, que continuo a pertencer àquela classe inferior que não tem direito de achar que é alguém. Que só sirvo para ser do resto, do que ninguém quer, do que só serve para entreter, porque, afinal, nem o vosso deus quis que eu fosse normal.
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