Trouxeste-me a felicidade dos tolos apaixonados embrulhada num pano velho; está tudo tão errado à nossa volta que me parece que só nós fazemos sentido, e deixamos de o fazer assim que tocamos a realidade. Somos nada mas entregaste-me um sorriso e eu levo-o para todo o lado - percebi que não era como eu pensava, que vale a pena entregar-me ao descontrolo e gostar como se gosta sem se provar o amor em pequenos travos; se é para gostar, que se traga a travessa cheia e que se sorva antes que arrefeça; nunca adianta guardar para depois.
Não sei se vou ter tempo de te amar - pelo menos, não como eu sempre acreditei que se amaria, com o para sempre na ponta da língua e no topo do coração, com os sonhos entrelaçados e as mãos a guardarem o calor uma da outra, dia após dia, mesmo quando desenlaçadas, mesmo quando distantes, desde que decidimos caminhar lado a lado, até darmos por nós, de cabelo grisalho a pensar na nossa vida. Até darmos por nós e já ser a altura da partida e, mesmo assim, pedirmos, por mera compaixão, mais cinco minutos para esgostarmos o amor porque uma vida inteira não bastou. Não sei se vou ter tempo de te amar e então amo-te antes do tempo, amo-te em adiantado mesmo não te amando, porque é isso que se faz o que não se pode fazer: faz-se na mesma.
Assusta-me a falta de amanhãs - não sei o que seremos ou se seremos. De nós, não sei mais do que aquilo que fomos ontem e o que somos hoje que, na falta de melhor, invento à pressa para não me perder. Há dias em que nos vejo como um saco roto que continuamos a tentar encher de farinha - outras vezes vejo-nos já remendados e quase prontos para o que der e vier - também não sei qual dos dois somos ou se isto fará sequer algum sentido. Sei que tenho medo de ficar e medo de te deixar ir - tornámo-nos veneno e antídoto e não há maneira de largar este ciclo. Quero acreditar que há sempre uma maneira de sairmos vivos - e, se morrermos um no outro, que seja velhos. Que seja de amor.
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