quarta-feira, 15 de outubro de 2014

escritos e enviados

Esta é a última vez que te escrevo - nunca impus limites a mim mesma nesse sentido porque confiei na minha capacidade de saber quando tivesse chegado a hora de me ir embora definitivamente da tua vida. E essa hora chegou.

Não me quero despedir de ti sem pelo menos tentar que me ouças: não sejas tão exigente com os outros. Não estejas sempre cinco passos atrás; eles vão mesmo desiludir-te, vão mesmo magoar-te, mas tu vais fazer o mesmo com eles. Também me desiludiste muito. E também me magoaste um bocadinho - eu falei-te dos meus medos e tu conseguiste abrir ainda mais a ferida que nunca teve tempo de sarar. Mas não te consigo culpar por isso; já viste o quão estúpida eu sou? É assim mesmo que o mundo funciona, alexandre. As coisas más equilibram o mundo porque nos obrigam a dar o devido valor às coisas boas - mas tens de aprender a lidar com as duas em simultâneo em vez de te fechares no teu mundo. Corres o risco de te transformares em alguém absurdamente injusto e intolerante, como fizeste comigo, de tanto medo que tens de te dar mais um bocadinho. De te arriscares por alguém.

Nunca tomes nada como garantido; ninguém consegue sequer imaginar o dia em que o sol não vai nascer e, no entanto, é certo e sabido que esse dia vai acontecer. O problema é que já não haverá de facto nenhum ser vivo que cá fique para contar a história - consegues imaginar pior final para o mundo em que vivemos do que o absoluto vazio? A morte de tudo? O fim? E, entendes, mesmo assim nós passamos a vida a queixar-nos de finais menores, de finais reversíveis, de coisas que se resolvem com o passar do tempo, como se não houvesse nunca uma saída. Mas há. Eu juro que um dia ainda hás de ser muito feliz, mas precisas de te permitir a isso primeiro. E precisas de aprender a não ter medo de dizer o que queres, o que pensas. Não te feches quando te magoam - nunca te cales. Faz-te ouvir. O silêncio nunca vai resolver nada - deixa as coisas exatamente no ponto em que ficaram, e isso é mil vezes pior do que resolveres o assunto de uma vez.

Já sei que o teu amigo decidiu, finalmente, admitir que inventou tudo o que te disse sobre mim. Já sei que ele te pediu desculpa - mas também já sei que, afinal, não foi essa a causa do teu afastamento inexplicável. Já sei que esse foi só o empurrão de que precisavas mas, tal como eu temia, foi pura vontade própria - e isso eu não te perdoo. Perdoar-te-ia um milhão de coisas, um milhão de vezes, mas não perdoo a falta de honestidade. A falta de coragem para me dizeres o que se estava a passar - e hey, eu aceitá-lo-ia se me tivesses dito. A vida está cheia de partidas e de chegadas que não conseguimos controlar - mas as fugas não têm desculpa. Não depois de tudo.

Não sei nada de ti há séculos. Não sei se chegas a ler ou se ignoras por completo mas, e repetindo o que já foi dito, isso não me importo muito. Nunca me perdoaria a mim mesma se não tivesse tentado, se não tivesse dito exatamente aquilo que sentia; de resto, as atitudes são de quem as tem e eu não sou responsável pelas tuas reações. A minha parte está mais do que feita, começam a falhar-me as palavras e a vontade de as inventar na esperança de conseguir manter uma ponte entre nós. Gosto muito de ti, mas já não faço nada aqui.

Esta é a última vez que te escrevo, o que significa que - no caso de chegares a ler - esta será a última vez que terás notícias minhas. Não sei se estás bem, se estás feliz, se o teu problema se resolveu, mas resta-me dizer-te que espero, sinceramente, que sim. Apesar de tudo, não te guardo qualquer rancor e lembrar-me-ei sempre de ti com o mesmo carinho de sempre, mesmo que agora só me passem pela cabeça os momentos em que descobri que me mentiste e mais uns quantos em que me foi realmente difícil não perder a cabeça - acreditas que, mesmo estando profundamente desiludida, te continuo a desejar o melhor? É que eu acho que não tens culpa - ou tens, por te deixares domar dessa forma, mas acabamos por ficar todos meio estragados quando o mundo à nossa volta está sempre a ruir. Lamento por tudo, mas não lamento ter-te conhecido - repeti-lo-ia um milhão de vezes, mesmo sabendo que o final era este. Aqui. Assim.

Que o chão debaixo dos teus pés nunca mais se abra e que consigas manter o equilíbrio depois de qualquer abalo. Que encontres alguém que te dê aquilo de que precisas e que vejas o que me fizeste como uma lição para não repetir - não te percas a ti próprio, mas não faças alguém perder-se de propósito. Não terás a sorte de encontrar muita gente que continue a ver o teu lado bom depois de teres feito algo como aquilo que fizeste comigo. Da minha parte, não tenho nem quero ter mais nada para dizer. Mesmo que tenha, nunca saberás.
Adeus.

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